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Ari Uru-Eu-Wau-Wau foi morto porque suspeito se incomodava com presença do indígena em bar, revela delegado da PF


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Foto: Reprodução

Responsável pela investigação do assassinato do professor indígena Ari Uru-Eu-Wau-Wau, o delegado Jorge Florêncio de Oliveira, da Polícia Federal (PF), falou pela 1ª vez sobre a decisão de declínio de competência da investigação do crime, que agora segue com a justiça estadual.

De acordo com o delegado, o assassinato do professor Ari não está relacionado a crimes ambientais. Isso porque a força-tarefa de investigação da PF apontou que a motivação do crime foi banal.

“Esse indivíduo, suspeito de ter praticado o crime, é uma pessoa com histórico criminal. Ele já é investigado e processado por outro crime contra a vida. Tem histórico de violência doméstica, inclusive já tentou matar pessoas que ele teve relacionamento amoroso. É uma pessoa, em tese, violenta, principalmente quando ingere bebida alcoólica”, revela.

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O delegado Jorge Florêncio de Oliveira lembra que quando Ari foi achado morto, em abril de 2020, o caso começou a ser investigado pela Polícia Civil. Uma linha de investigação apontada na época, pela Civil de Jaru (RO), era de que o homicídio pudesse ser motivado pelo trabalho feito pelo indígena na defesa do meio ambiente.

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Por causa disso o caso foi enviado à PF de Ji-Paraná, no entanto o assassinato não foi relacionado a crimes ambientais e o delegado explicou o motivo.

“O que motivou a morte de Ari foi algo fútil. O autor do crime que morava na região tinha um bar e ele tava incomodado com o Ari. A vítima às vezes passava lá e o suspeito se incomodava. A própria presença do indígena ali gerava um desconforto no suspeito. Não havia interesse relacionado com madeireiro. O que concluímos é que o autor do crime, pelo simples fato de não gostar do Ari, decidiu matar o indígena“, afirma Jorge Florêncio de Oliveira.

Ainda segundo o delegado da PF, o suspeito inclusive havia dito a algumas pessoas que iria matar Ari caso ele passasse pelo bar, pois o achava chato. No dia do crime, o indígena passou pelo estabelecimento e aceitou ingerir bebida alcoólica ofertada pelo suspeito.

“Devido à promessa que havia feito a algumas pessoas, sobre tirar a vida de Ari, o suspeito ofereceu um pouco mais de bebida pro indígena naquele dia”, conta Jorge Florêncio de Oliveira.

De acordo com o delegado, Ari-Uru-Eu-Wau-Wau aceitou a bebida pois confiava no autor do crime, inclusive já tinha dormido no bar em outras ocasiões.

“Ari então ficou inconsciente, e o suspeito o levou para um lugar perto do bar e, de forma brutal, tirou a vida da vítima, sem chance de defesa. Pra tentar dificultar os trabalhos investigativos, o suspeito levou o corpo de Ari a outro local. Um dos sinais mais evidentes de que isso aconteceu foi porque Ari estava sem chinelo, indicando que o corpo foi arrastado”, ressalta o delegado.

Segundo a PF, o autor do crime não confessou o crime em depoimento, mas afirmou para várias outras pessoas, de maneira informal, que tinha matado Ari-Uru-Eu-Wau-Wau.

Essas informações confirmadas por terceiros também foram confirmadas no laudo pericial. “A PF concluiu no final que o motivo foi fútil, que foi um homicídio qualificado e não há presença de algum critério que fixe a competência do caso na Justiça Federal”, afirma.

O caso do líder indígena Ari Uru-Eu-Wau-Wau retornou para responsabilidade da Justiça Estadual na semana passada.

O pedido de declínio foi feito pelo Ministério Público Federal (MPF), e acatado pela Justiça Federal, se baseando no relatório final da PF sobre a morte.

“Foi uma investigação parcial, técnica, e concluiu que o motivo que levou a morte de Ari não foi interesse federal. Qualquer pessoa que incomodava o suspeito poderia ser vítima, nesse caso foi o indígena”, ressalta o delegado Jorge Florêncio de Oliveira.

Homicídio de Ari

 

Ari foi morto durante a noite de 17 de abril de 2020 em um distrito de Jaru (RO) e o corpo foi encontrado na manhã seguinte, com sinais de lesão contundente na região do pescoço, que ocasionou uma hemorragia aguda.

A PF informou que o corpo de Ari não tinha sinais de autodefesa. Com base nessa constatação, uma das hipóteses é que o suspeito dopou o líder indígena e o agrediu até a morte, depois moveu o corpo para outro local.

O suspeito foi preso no dia 13 de julho deste ano e permanece detido. Ele não quis prestar depoimento e só deve falar em Juízo.

O legado

 

O nome do professor Ari continua a ecoar dentro e fora de Rondônia. Ele foi lembrado na abertura oficial da Conferência da Cúpula do Clima (COP26) na Escócia, durante discurso da ativista indígena Txai Suruí, em novembro do ano passado.

“Enquanto vocês fecham os olhos para a realidade, o defensor da terra Ari Uru-Eu-Wau-Wau, meu amigo desde que eu era criança, foi assassinado por defender a floresta. Os povos indígenas estão na linha de frente da emergência climática e nós precisamos estar no centro das decisões tomadas aqui”, disse Txai durante discurso.

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