O g1 relembra os rostos e histórias por trás dos números. Rondonienses foram mortas enquanto estavam de conchinha na cama com o companheiro e até por se recusar a dançar com o ex em uma festa. O estado teve um aumento de 75% nos casos de feminicídio em 2022 em comparação com 2021.
Antonieli Nunes, de 32 anos; Rayane Ferreira Nascimento, de 30 anos; Laryssa Victória, 17 anos, elas são algumas das mulheres que morreram de forma violenta em Rondônia no ano passado. São os rostos e histórias por trás dos números, já que o estado teve um aumento de 75% nos casos de feminicídio em 2022 em comparação com 2021.
Com isso, Rondônia se torna o segundo estado do país com maior índice de feminicídios, atrás apenas de Mato Grosso do Sul.
Taxas de feminicídio:
- Mato Grosso do Sul: 3,5 a cada 100 mil mulheres
- Rondônia: 3,1 a cada 100 mil mulheres
Os dados são do Monitor da Violência, feito pelo g1 com base nos dados oficiais dos 26 estados e do Distrito Federal.
Feminicídio é um crime baseado no gênero, ocorre quando a mulher morre por ser mulher. Dados do Monitor da Violência também apontam que esse crime mata uma mulher a cada 6 horas no Brasil, sendo que 8 em cada 10 crimes são cometidos pelo parceiro ou ex-parceiro da vítima.
De conchinha na cama, em uma festa, no meio da rua…
Antonieli Nunes Martins foi achada morta em cima da cama, em Pimenta Bueno — Foto: Facebook/Reprodução
Antonieli Nunes Martins, de 32 anos, morreu após contar sobre a gravidez ao pai do bebê, Gabriel Henrique. Segundo depoimento do próprio acusado, ele e Antonieli estavam deitados de conchinha na cama quando começou a matar a vítima.
“Ela estava deitada no meu braço esquerdo, de costas pra mim, quando do nada dei um mata-leão, imobilizando-a também com as pernas. Ela se debateu e lutou contra a própria morte”, relatou durante depoimento à polícia em fevereiro de 2022.
Gabriel também disse na época que só parou o mata-leão quando não sentia mais o próprio braço, “de tanto que havia apertado o pescoço” de Antonieli.
O corpo dela foi encontrado por parentes em cima da cama.
A vítima foi identificada como Rayane Ferreira Nascimento, de 30 anos. — Foto: Reprodução/Redes Sociais
Era domingo, 24 de abril de 2022. Rayane Ferreira Nascimento estava em uma festa em Alta Floresta D’Oeste (RO) quando se recusou a dançar com José Paula Goveia, ex-companheiro. Inconformado, ele pegou a arma, que estava na cintura e disparou contra ela. Rayane morreu no local e outras três pessoas ficaram feridas após os tiros.
Durante as investigações, a polícia descobriu que ela já havia avisado à família que sofria ameaças do ex-companheiro. O g1 teve acesso a trechos de trocas de mensagens entre a vítima e a mãe, onde Rayane conta que queria paz.
As imagens abaixo mostram o desabafo da filha para a mãe. Segundo a vítima, o ex não aceitava o fim do relacionamento e teria dito que “nunca iria deixar ela para outro”.
Troca de mensagens entre Rayane Ferreira Nascimento, que foi vítima de feminicídio em RO, e a mãe — Foto: Reprodução/ WhatsApp
Laryssa Victória, de 17 anos, foi encontrada morta e enterrada em quintal da casa de suspeito, em Ouro Preto, em RO — Foto: Reprodução/Redes Sociais
Laryssa Victoria, tinha apenas 17 anos. Ela queria ser advogada para “lutar pelo direito dos outros”, segundo a família. Mas teve os sonhos interrompidos, em março de 2022, após ser espancada, estrangulada, perfurada mais de 20 vezes e enterrada em uma cova rasa em Ouro Preto do Oeste (RO).
Segundo a Polícia Civil, Ronaldo dos Santos Lira, um assistente social da cidade, confessou no interrogatório que matou Laryssa pelo “desejo de matar” que tinha desde a infância. Ele teria usado a bolsa da própria vítima para tentar um estrangulamento, depois a esfaqueou no pescoço e “assistiu ela sangrar”.
A menina estava desaparecida há dois dias quando foi encontrada morta e enterrada.
Brasil: uma mulher morta a cada 6 horas
O Brasil teve um aumento de 5% nos casos de feminicídio em 2022 em comparação com 2021, aponta levantamento feito pelo g1 com base nos dados oficiais dos 26 estados e do Distrito Federal. São 1,4 mil mulheres mortas apenas pelo fato de serem mulheres – uma a cada 6 horas, em média. Este número é o maior registrado no país desde que a lei de feminicídio entrou em vigor, em 2015.
O levantamento revela que:
- o Brasil teve 3,9 mil homicídios dolosos (intencionais) de mulheres em 2022 (aumento de 2,6% em relação ao ano anterior)
- foram 1,4 mil feminicídios, o maior número já registrado desde que a lei entrou em vigor, em 2015
- 12 estados registraram alta no número de homicídios de mulheres
- 14 estados tiveram mais vítimas de feminicídio de um ano para o outro
- Mato Grosso do Sul e Rondônia são os estados com o maior índice de homicídios de mulheres
- MS e RO também têm as maiores taxas de feminicídios do país.
Por: G1/RO