Após fazer uma transferência online via Pix ao destinatário errado, um comerciante em Porto Velho não acreditou que poderia reaver o valor de R$ 380. Mas ele entrou em contato com a pessoa e foi surpreendido. Do outro lado estava Rosialda Silva, de 36 anos, desempregada, com problemas de saúde na coluna e mãe de cinco filhos: “Devolvi sim. Eu só quero o que é meu, não sou desonesta”, disse a mãe.
Em busca de uma vida melhor
Rosialda Silva contou ao g1 que decidiu sair de Rio Branco (AC) para tentar melhorar de vida em Porto Velho. Há quase um mês na capital rondoniense, onde está morando de aluguel, ela diz que precisa de ajuda para alimentar a família.
Rosialda lembra que só depois da ligação do comerciante foi que ela soube da transferência bancária feita por ele.
Após devolver o dinheiro, o comerciante fez uma doação e colocou uma recarga no celular de Rosialda para que ela tivesse acesso momentâneo à internet. Ela conta que ficou surpresa e agradecida pela ação dele.
“Oro sempre por ele e agradeço a Deus pela vida dele. Há um tempo, muitas pessoas me ajudaram em uma campanha, consegui comprar um fogão e uma geladeira de segunda mão e também consegui matricular meus meninos [em escola], não foi muito dinheiro, mas me ajudou muito”.
Por conta de um desvio na coluna, Rosialda não consegue fazer a maioria dos serviços de casa e para isso ela conta com a ajuda dos filhos, o mais velho de 16 anos, dois com 14, outro com 11 e a caçula de 7 anos.
“O médico disse que eu não posso pegar em uma vassoura, lavar roupa ou fazer serviço pesado em casa. Meus meninos me ajudam. Só faço a comida. No dia que lavo a roupa fico toda inchada e com dores. Meu menino mais velho, graças a Deus, conseguiu um emprego. Mas a gente sempre precisa de ajuda”, fala.
‘O Pix errado’
O g1 conversou com o comerciante, que preferiu não se identificar, e ele contou que o valor transferido tinha como destino a sobrinha, que faria o pagamento de contas do comércio de forma online.
“Eu fiz o Pix e segui na correria do dia a dia. Mas o dinheiro não chegou para ela. Foi quando eu fui ver que tinha enviado o valor para uma pessoa que a chave de envio era um celular com DDD do Acre. Na hora até perdi a esperança de reaver o dinheiro, afinal o erro foi meu, né?”.
Mesmo sem esperança, o comerciante conta que decidiu ligar para o telefone exposto.
“A filha dela foi quem me atendeu e depois passou para a mãe. Ela me atendeu e falou que não tinha nem visto o valor, pois estava sem crédito [por isso não tinha acesso à internet], mas que não tinha problema e que era pra eu ficar tranquilo, pois iriam me devolver o dinheiro”.
A atitude da mulher surpreendeu o comerciante. Depois disso ele diz que buscou na memória o motivo de ter a chave Pix dela em sua lista de contatos.
“Me lembrei que havia depositado um dinheiro para ajudá-la quando ela estava em uma campanha pedindo ajuda financeira. Eu mandei um áudio explicando que eu sabia quem era ela e porque ela estava na minha lista de contatos, mas ela não me respondeu de imediato. Deu uns 40 minutos depois, ela me mandou “olha senhor, o dinheiro já está na sua conta””, lembra.
Comovido novamente com a história, e agora com o valor do Pix devolvido, o comerciante diz que sentiu no coração e fez uma nova doação para a mulher.
“Hoje em dia, com tantos golpes, a gente fica desconfiado das pessoas. Mas ela foi muito sincera e honesta e depois de me devolver o dinheiro ainda disse que não queria nada que não fosse dela. Mesmo com todas as adversidades, ela se manteve íntegra. Isso é admirável”, contou.
Por Jheniffer Núbia, g1 RO