No rosto olhares tristes, desolados e perdidos. Esse foi o sentimento que inundou cerca de 20 famílias, despejadas na última segunda-feira (07 de setembro) de suas casas, em loteamentos localizados a 60 KM de Vilhena, na Fazenda Vilhena. O local, que já foi palco de chacina por questões territoriais em 2015, agora conta com mais esse ponto trágico em sua história.
O Jornal Folha de Vilhena esteve acompanhando a situação, e colheu depoimento de alguns dos moradores retirados das terras. José Orlando, de 71 anos, relatou os momentos de tensão vividos durante a reintegração de posse. “Nunca passei por isso dessa forma. No momento em que me seguraram ali, para mim já foi um desrespeito. Não houve pancadaria, espancamento, nisso eles foram bacanas. Mas, largar nossas coisas jogadas no meio do mato, deixar nossos animais passando fome, e não dar o direito de ir lá buscar, só isso ai é desrespeitoso”.
José contou que, ao saberem que a polícia iria ao endereço, os moradores se reuniram na Associação local para melhorar as vias de comunicação entre todos. No entanto, ele relata que aproximadamente 15 viaturas chegaram ao local, todos os policiais armados exigindo que os moradores ficassem de costas, realizando revistas. O idoso garantiu que todos os moradores estavam tranquilos, e que ninguém estava armado.
Na revista, aqueles que não possuíam documentos foram detidos, retidos sem direito a fazer necessidades básicas ou tomar água, segundo José Orlando. “E enquanto estávamos ali, presos, o Oficial de Justiça chegou e disse: ‘vocês vão acompanhar nós até seus barracos para retirar pertences, vocês ajudarão nós’. Mas, aqueles que estavam detidos, não puderam tirar suas coisas, eles mesmos foram lá e mexeram em tudo”.
No assentamento residem famílias desde 2009, produzindo e construindo em terras da União. Na reintegração, residências e plantações do loteamento 75 foram destruídas, animais domésticos e de criação abandonados e pertences jogados fora. “Não pode ter maus tratos aos animais, é crime. É crime espancar, abandonar. E porque que eles abandonaram lá? Eu como dono, não me autorizaram ir lá buscar e nem foram comigo. Eu pedi que eles me levassem se não confiam em mim”, relembrou José, contando sobre seus cachorros de estimação largados até o momento na propriedade.
Sem ter para onde ir, muitos moradores tiveram seus poucos móveis jogados no pátio da escola Angêlo Donadon. Sua principal reclamação foi a falta de assistência do município para com as famílias, algumas delas compostas por idosos e crianças que foram despejados sem informação, sem comida, sem água, sem mascaras de proteção.
“Eu troquei minha casa em uma posse lá dentro do loteamento. Perdi minha casa, fiquei sem chão. Não sei o que fazer, nem qual medida tomar. Por isso estamos recorrendo a todos os órgãos para conseguir saber o que fazer”, relatou Eleandro, morador há dois anos no assentamento. O morador conta que no local, são pelo menos 68 famílias, mas aproximadamente 20 residiam fixamente. Apesar disso, todos perderam tudo, já que estão proibidos de retornar às suas casas.
“No dia 12 de agosto, tivemos uma decisão favorável a nós do loteamento 85. No dia 13 de agosto, a Justiça do município emitiu outra decisão diferente, contra o loteamento 75. No dia 28, procuraram envolver os dois módulos, dos lotes. No loteamento 75 mandaram destruir tudo, plantações e casas. Já no 85, deixou à escolha do fazendeiro”, explicou Eleandro, “ainda falaram para preservarmos a nossa vida, e que não poderíamos mais ser pegos lá dentro. Não era para voltar”.
Tristes, indignados e desolados, os moradores buscam apoio uns nos outros para conseguir se recuperarem. Sem ter para onde ir, eles aguardam alguma ajuda, de familiares, conhecidos, ou mesmo dos órgãos públicos. “Não ligaram com as nossas vidas, eu estou com 71 anos e se pego esse vírus com três dias morro. Soltaram a gente nessa pandemia no meio da estrada, isso não se faz nem com cachorro”.