Vídeo foi compartilhado no início da pandemia. De acordo com o delegado Wagner Salles, ela vai responder pelo crime de denunciação caluniosa
A Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) indiciou a mulher que divulgou um vídeo fake dizendo que caixões com pedras e pedaços de madeira estavam sendo enterrados em Belo Horizonte no lugar de vítimas da Covid-19. O inquérito foi concluído e divulgado nesta segunda-feira (24). Valdete Zanco vai responder pelo crime de denunciação caluniosa e pela contravenção penal de provocar pânico e tumulto.
No mês de abril, circulou pelas redes sociais um vídeo em que a mulher afirmava que encontraram pedra e madeira ao abrir caixões de vítimas do coronavírus em cemitérios municipais de Belo Horizonte (MG).
“Mandaram arrancar todos os caixões para poder fazer o exame e ver se é coronavírus mesmo. Sabe o que tem dentro do caixão? Pedra e madeira. Um monte de caixão cheio de pedra e madeira”, dizia ela no vídeo. A mensagem era fake.
De acordo com o delegado Wagner Salles, a mulher vai responder em liberdade até a decisão da Justiça. Além de multa, ela pode pegar até 8 anos de prisão.
“A Polícia Civil, quando tomou conhecimento desse vídeo, compareceu no interior do estado, identificou essa autora e ela foi ouvida. Ela produziu o vídeo, divulgou em família, mas também para outras pessoas. É preciso que saibam que determinados atos em redes sociais trazem efeitos e consequências para a vida real. Quem compartilha também pode ser indiciado. Internet não é terra de ninguém”, disse Salles, chefe do 1º Departamento de Polícia Civil.
Na época, a Prefeitura de Belo Horizonte esclareceu que as informações do vídeo eram falsas, pois não houve pedidos de exumação de corpos para que fossem feitos exames na cidade.
“A pessoa sugere que caixões de vítimas de Covid-19 estão sendo desenterrados nos cemitérios da capital. São informações sem fundamento”.
Entenda o caso
No dia 5 de maio, a PCMG instaurou inquérito para apurar a publicação do vídeo. No dia seguinte, uma equipe de policiais compareceu ao município de Campanha, no Sul do estado, onde identificou e localizou a autora do vídeo. A suspeita foi conduzida até a Delegacia de Polícia da cidade, onde prestou depoimento. Ela ainda teve o aparelho celular apreendido para exames periciais.
Alexsander Pereira, advogado de Valdete, divulgou uma nota, na época, com pedido de desculpas. “Valdete reconhece humildemente o erro e pede perdão ao Município de Belo Horizonte e seu Ilustre Prefeito e a todos quantos foram atingidos negativamente por este equívoco que cometeu”, disse o advogado em nota. Ao G1, Valdete reafirmou o pedido de desculpas.
Na nota, o advogado disse que ela teria visto no Facebook a história dos caixões com pedras e pedaços de pau no lugar das supostas vítimas do novo coronavírus. E que, no mesmo dia, um cliente de sua loja teria comentado sobre o fato.
Por isso, segundo a nota, ela resolveu fazer um vídeo e compartilhar apenas com a família. “Desconhecemos a forma como o vídeo ganhou notoriedade nas redes sociais e nos demais veículos de comunicação”, informou o advogado.
Veja a íntegra da nota
“Venho à público esclarecer a respeito do vídeo gravado pela minha cliente Valdete Zanco e que repercute nas redes sociais. Ela havia visto na rede social denominada Facebook um fato ocorrido no Município de Belo Horizonte/MG, do qual caixões haviam sido desenterrados e localizado em seu interior, pedras e pedaços de madeira. Na data da gravação, no interior da loja onde trabalha, ela recebeu um cliente que coincidentemente fez os mesmos comentários, o que a fez julgar o ocorrido como verdade.
Quero deixar claro que o vídeo foi postado unicamente em um grupo de WhatsApp de família, tanto que início o vídeo chama a atenção de um certo Hernandes, sendo este irmão da minha cliente. Com o vazamento do vídeo do grupo de família, ele chegou a ser compartilhado em um canal de Youtube, colaborando assim pela propagação. Desconhecemos a forma como o vídeo ganhou notoriedade nas redes sociais e nos demais veículos de comunicação.
Valdete reconhece humildemente o erro e pede perdão ao Município de Belo Horizonte e seu Ilustre Prefeito e a todos quantos foram atingidos negativamente por este equívoco que cometeu . Gostaria ainda de frisar que minha cliente já se apresentou na Delegacia de Polícia Civil da cidade de Jacutinga/MG na data de 04/05/2020, onde fora lavrada a ocorrência, e deixado registrado o incidente, contribuindo com a justiça e para que essa seja promovida”.
Como é feito um sepultamento em BH
A administração municipal de BH esclareceu que, nos cemitérios municipais da cidade, os sepultamentos são feitos mediante a apresentação de guia de sepultamento emitida pelo cartório, em conformidade com as informações contidas no atestado de óbito ou próprio atestado de óbito.
A guia deve ser apresentada ao cemitério, acompanhada de documentos pessoais do solicitante – familiar ou pessoa responsável pela solicitação –, que deve comprovar seu vínculo com o falecido (por meio de documentos pessoais e/ou procuração).
Os sepultamentos em cemitérios públicos e privados na capital mineira são realizados, segundo a nota, exclusivamente por profissionais específicos (coveiros) de cada necrópole, utilizando equipamento de proteção individual e adotando as medidas sanitárias cabíveis. Ou seja, também não é verdade que os próprios familiares estejam enterrando seus parentes, como diz a mulher no vídeo.