A violência doméstica sempre foi um grande problema para o mundo. Mas, durante o período de isolamento social, causado pelo risco do Covid-19, especialistas têm avaliado o momento como alarmante em relação ao crescimento dos casos. Vilhena, de acordo com dados levantados, vai na mesma estrada: no mesmo período de meses entre 2019 e 2020, houve um aumento de quase 50% nos casos de violência doméstica.
Conforme relatório obtido com exclusividade pelo site Folha de Vilhena, em abril de 2019 foram registradas 32 ocorrências de lesão corporal. Enquanto isso, em abril de 2020 o número saltou para 51 denúncias. Também houve alta nos índices de medidas protetivas, injúria/difamação e danos. Os números em relação a prisões em flagrante e estupro sofreram pequenas alterações, mas ainda se enquadram como violência (tendo em vista que a maioria ocorre dentro das residências).
Especialistas apontam o período de pandemia e isolamento social como um grande fator para esse aumento. A tensão por conta do momento histórico, junto ao confinamento ao qual são submetidas estão contribuindo em muito para os desentendimentos. “Como as pessoas ficam mais tempo juntas, há o aumento dos conflitos familiares, os quais em muitos casos, evoluem para agressões verbais e físicas”, explicou a Delegada da Delegacia da Mulher em Vilhena, Solângela Guimarães.
SERVIÇOS PARA AMPARO À MULHER
A Psicóloga do Centro de Atendimento à Mulher (CAM), Letícia Santi, explicou que muitas mulheres tem dificuldade em identificar a violência doméstica, porque pensam que só sofrem ela quando é algo físico. “E não é só isso, a violência tem muitas outras modalidades. Ofensas, xingamentos, humilhações, críticas constantes para desmoralizar e depreciar a mulher também se enquadra como violência doméstica”, garantiu Letícia.
Ela ainda ressaltou a necessidade das vítimas em compreender que não precisam se sentirem submetidas a essas situações de violência verbal. Procurar ajuda, nesses casos, é fundamental. O CAM faz atendimento psicológico, independente do registro policial ou não, e a partir de junho haverá modalidades online para denúncias e atendimento, por WhatsApp.
A Delegada Solângela também garantiu que, apesar da pandemia, a Polícia Civil segue realizando o trabalho de proteção e amparo às vilhenenses. “Esses crimes de violência contra crianças e mulheres são prioridades, mesmo nesse período em que estamos, não podemos parar. E como também já houve um aumento, estamos trabalhando mais do que o normal”, ela informou ao relatar um caso onde um pedido de prisão representado por ela foi cumprida em outro município pela DEAM do município.
Algumas vítimas também podem procurar socorro, quando não tem para onde ir. Atualmente, a Casa Abrigo está em reforma, mas o acolhimento está sendo realizado pela Secretaria Municipal de Assistência Social (SEMAS). Quem faz o encaminhamento é o CAM, em parceria com a DEAM, realizando um trabalho em rede com caráter de emergência durante a pandemia.
O QUE ACONTECE APÓS A DENÚNCIA?
Solângela explicou ainda que, após a denúncia ser encaminhada imediatamente para uma Delegacia de Polícia, a DEAM recebe a ocorrência e uma viatura é acionada. A vítima de violência então é acolhida, ou em casos de flagrante o companheiro é preso. Depois, começa um processo de solicitação para medida protetiva.
A medida procura garantir que o agressor seja afastado do lar e proibido de se aproximar da vítima, assim como manter contato por qualquer meio de comunicação. Ou em casos onde a vítima decida sair, ela é abrigada temporariamente até conseguir contato com familiares que possam acolhê-la.
Em casos onde o agressor descumpre a medida protetiva, com um inquérito policial instaurado na Delegacia Especializada em Atendimento à Mulher (DEAM), a prisão preventiva do suspeito é representada. Com o decreto do Poder Judiciário, os policiais cumprem o mandado e o agressor é afastado por meio de detenção.
TODOS PODEM DENUNCIAR
A Delegada ainda orientou a população para fazerem denúncias. Em Vilhena, estão disponíveis os telefones 180, 3322-5851 (DEAM), todos com possibilidade de denúncia anônima. Nos municípios próximos, onde não há Delegacia Especializada, a ligação pode ser feita para o próprio 190.
“Eu acredito que tenham até mais vítimas, mas muitas não procuram a Delegacia. É importante orientar que quem tiver conhecimento, pode fazer uma ligação anônima, para que nós possamos investigar e tomar as medidas necessárias”, finalizou Solângela.