De um estado pouco expressivo na piscicultura, Rondônia alcançou a liderança na produção de peixe em água doce. Segundo a gerente de Pesca e Aquicultura da Secretaria de Estado do Desenvolvimento Ambiental (Sedam), Marli Lustosa, foram mais de 87 mil toneladas produzidas em 2016 e a projeção para 2017 é que chegue a 150 mil toneladas.
O que de acordo o levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mantém Rondônia desde 2014 na liderança na produção de peixe em água doce no país, seguido do Paraná, com 69.2 mil toneladas; e do Mato Grosso, com 47.4 mil toneladas.
Mas o governador Confúcio Moura quer mais. ‘‘A meta é chegar a 250 mil toneladas até o final do mandato dele, em 2018’’, afirmou a gerente.
E se depender do interesse dos produtores, o setor continuará em alta no estado. ‘‘Não param de crescer as solicitações para licenciamento de novos empreendimentos da atividade de piscicultura e são os médios produtores, aqueles com área de 10 até 50 hectares, que têm demostrado maior interesse’’, disse Marli.
Para a gerente, política de incentivo do estado e o clima amazônico têm colocado a piscicultura em outro patamar em Rondônia. ‘‘O clima nos favorece muito. Além disso, criamos as espécies nativas, como tambaqui, pirarucu, jatuarana e também temos um híbrido que é o cruzamento do pintado com o cachara, chamado pintadinho da Amazônia’’, contou.
‘‘O governador Confúcio Moura desde que iniciou a gestão em 2011 deu prioridade a esta atividade. Na época que ele assumiu o primeiro mandato, disse que queria chegar a 80 mil toneladas de peixe em 2014 porque o estado em 2010 somente produzia 12 mil toneladas e tinha apenas 200 empreendimentos cadastrados e nem todos licenciados. De 2011 a 2014, o setor teve um grande salto, e chegamos a quase três mil empreendimentos licenciados e mais de 75 mil toneladas de peixe’’, lembrou.
Segundo Marli, o primeiro passo para o setor avançar é o licenciamento feito pela Sedam. E esse serviço vem sendo otimizado no estado. ‘‘Essa é uma etapa muito importante para que a atividade tenha desenvolvimento com sustentabilidade. Em 2016 o governador criou, por decreto, o Grupo Técnico Multidisciplinar da Cadeia Produtiva do Pescado, que reúne toda a equipe do governo que trabalha para o desenvolvimento da piscicultura em um mesmo espaço na Secretaria de Estado da Agricultura (Seagri). Assim, o produtor terá mais facilidade para resolver alguma demanda do setor’’, considera a gerente.
Levantamentos da Sedam apontam que até 2016 Rondônia registrou 4.084 empreendimentos licenciados para a atividade de piscicultura, que ocupam uma área de 14.483,93 hectares, e possui uma produção estimada em 87.503,73 toneladas.
Em Rondônia, os municípios que concentram a maior produção de peixe são Ariquemes (12.6 mil toneladas), Cujubim (6,6 mil toneladas), Urupá (5,4 mil toneladas), Mirante da Serra (5,4 mil toneladas) e Porto Velho (5,2 mil toneladas). Ainda conforme a gerente de Pesca e Aquicultura, no estado há cerca de 15 entrepostos pesqueiros para estocagem e a comercialização dos peixes.
Para a bióloga Ilce Santos Oliveira, da Superintendência de Desenvolvimento do Estado de Rondônia (Suder), o estado sempre teve vocação para a produção de peixe, o que faltava era vontade política, o que aconteceu a partir da gestão do governador Confúcio Moura.
‘‘O incentivo desde o início foi para todos os elos da cadeia produtiva do pescado, desde a produção, sanidade, sustentabilidade e implantação de unidades processadoras. Mas o produtor de Rondônia despertou primeiramente para a engorda do pescado’’, revelou.
ESTRATÉGIAS
Segundo o titular da Suder, Basílio Leandro de Oliveira, a piscicultura já está entre as 10 principais atividades econômicas do estado e deve se destacar ainda mais nos próximos anos. Os esforços se concentram agora em garantir a sanidade dos peixes, incentivar o beneficiamento da produção e atender a novos mercados.
‘‘A cadeia produtiva do pescado tem duas pontas que são de extrema importância para o estado. Uma é a produção dos alevinos, por isso o governo tem focado muito na sanidade na produção de alevinos; e a outra ponta é justamente a industrialização, que já vem sendo incentivada há muito tempo’’, citou, completando que esse elo industrialização/comercialização deve ser olhado com carinho pela iniciativa privada porque por parte do governo já é dada com os incentivos para que sejam implantadas essas plantas frigorificas. “Precisamos agregar valor ao nosso produto. Grande parte do nosso peixe é vendido in natura e são processados em outros estados, e estes acabam tendo muito mais lucro com o nosso produto que nós mesmos’’, avalia.
O superintendente ainda citou as ações estratégicas do governo para fortalecer a cadeia do pescado em Rondônia. ‘‘Estamos fazendo rodadas de negócios com embaixadas e empresas que têm interesse em comprar o peixe de Rondônia. Quanto à industrialização, o governo poderá entrar como parceiro de empresas para instalação de frigoríficos, que era um elo que faltava na cadeia do peixe, e também estamos trabalhando de maneira muito forte na sanidade do peixe’’, garantiu o superintendente.
Ele ainda recentemente uma equipe do governo, juntamente com parceiros como a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), visitaram Palmas (TO) para conhecer os estudos que a Embrapa-TO desenvolveu sobre a sanidade do peixe. ‘‘Traremos essa tecnologia que já existe lá para o nosso estado através da Embrapa de Rondônia, e faremos que chegue até os pequenos piscicultores’’, afirmou.
INDUSTRIALIZAÇÃO
Segundo a bióloga Ilce Santos Oliveira, os principais destinos da produção de peixe de Rondônia são o Distrito Federal, Goiás, Paraná, Minas Gerais, Maranhão e Piauí. Mas países vizinhos também já deram sinal verde para receber os peixes rondonienses. ‘‘O Peru, inclusive, já tem algo concretizado com um dos frigoríficos de Rondônia. E outros países africanos também demostraram interesse em adquirir o nosso pescado seco, salgado ou defumado. Temos encomenda da Nigéria, Zimbábue e Namíbia’’, revelou.
Rondônia possui dois frigoríficos de pescado com o certificado para vender para o restante do País e um deles também está apto a exportar para outros países, o que, segundo o superintendente, é feito através do beneficiamento do peixe, aproveitando o trabalho artesanal dos ribeirinhos. Os empreendimentos estão localizados nos municípios de Ariquemes e Vilhena. ‘‘Temos um terceiro frigorifico que será instalado no município de Itapuã do Oeste e que também terá o certificado para vender para o restante do País’’, disse Basílio.
Devido à grande produção no estado, um dos frigoríficos terá a capacidade de processamento ampliada. ‘‘O frigorifico de Vilhena, que visitei recentemente, tem um projeto de ampliação de duas para 10 toneladas por dia, e isso já é fruto da política do governo de desenvolvimento da piscicultura’’, comemorou Basílio Leandro.
EXPECTATIVA
A projeção para Rondônia é que nos próximos anos a piscicultura avance em diferentes frentes de módulos de produção. Além do tanque escavado e do tanque de lona, a novidade será o tanque-rede nos lagos do rio Madeira. ‘‘O estado conseguiu recentemente autorização para produção em cativeiro nos lagos de Jirau e Santo Antônio. É uma questão de tempo estarmos com parques aquícolas elevando e muito a produção. Só o Estado de Rondônia tem capacidade para produzir mais do que todos os outros estados brasileiros juntos, e nós vamos explorar isso’’, destacou o superintendente.
Ele ainda ressaltou, que o governador Confúcio Moura vem dando prioridade à piscicultura, que hoje é menor em arrecadação que o setor da pecuária, mas não há dúvida que em curto espaço de tempo mudará isso e ocupará papel de destaque na geração de riquezas para o estado.
Para a 6ª Rondônia Rural Show, que ocorrerá de 24 a 27 de maio, em Ji-Paraná, a Suder já adiantou que os produtores terão acesso a inovações e tecnologias para fomentar ainda mais a piscicultura no estado. ‘‘Teremos uma maciça presença de representantes de diversos países que têm interesse em fazer parcerias. Neste ano a novidade é o fato de o evento ser realizado em um espaço novo, de 50 hectares, e já temos confirmada a presença de uma grande empresa do setor de piscicultura que exporá novas tecnologias’’, adiantou Basílio Leandro.
Texto: Vanessa Moura
Fotos: Ésio Mendes e Marcelo Gladson