Mulher está presa no presídio feminino de Vilhena (RO) há 8 meses.
Ela se classificou para o curso que sempre sonhou: psicologia.
Uma detenta de 42 anos conseguiu uma bolsa integral para cursar psicologia em uma faculdade privada de Vilhena (RO), a 700 quilômetros de Porto Velho. Presa desde maio de 2016 por tráfico de drogas, a mulher decidiu mudar de vida ao rever a própria história no crime. Foram meses de estudos em busca da realização de um sonho antigo: ser psicóloga. “É um recomeço. Vou abraçar essa chance”, disse emocionada ao descobrir que foi aprovada no curso superior.
Preferindo não se identificar, a mulher relatou que, antes de ser presa, chegou a prestar uma vez o vestibular para psicologia em uma universidade federal, mas não foi chamada. Cuidando sozinha dos três filhos pequenos e também do pai, que sofre com sequelas de um Acidente Vascular Cerebral (AVC), acabou se envolvendo com um homem que eventualmente foi preso.
Semanas depois, ela foi visitá-lo no presídio e agentes penitenciários encontraram drogas escondidas nas roupas dela. Desde então, a mulher está presa respondendo pelo crime em regime fechado. No presídio, ela conta que teve tempo de pensar sobre as escolhas erradas feitas durante a vida. Após receber atendimento psicológico, decidiu dar a volta por cima.
“Durante essas reuniões eu pensei: “eu sou capaz, eu posso’. O que eu perdi lá fora eu posso conseguir de novo”, relembra.
Início dos estudos
A oportunidade para mudar surgiu através da educação. A princípio, a detenta começou a estudar para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), porém, no final de dezembro, a direção do presídio comunicou que uma faculdade da cidade estava oferecendo uma bolsa integral caso alguma presidiária atingisse a nota mínima necessária.
Assim, além de participar de aulas ministradas por professores da rede municipal que atuam na instituição, a detenta se preparou lendo livros didáticos dentro da cela. “Minha família ficou sabendo sobre meu objetivo e pelo fato de duas tias minhas serem professoras, elas disseram que iriam me apoiar e mandaram algumas apostilas. Tinha uma torcida pra mim lá fora. ‘Você vai conseguir’, eles diziam. Mas eu respondi que iria colocar Deus primeiramente na frente, depois meu pensar e meu agir”, contou.
A prova foi aplicada nesta semana. A presidiária escolheu como primeira opção o curso de psicologia e o curso de serviço social como segunda opção. A notícia de que havia passado no vestibular foi entregue pessoalmente por uma representante da faculdade. Surpresa, a detenta não conteve a emoção e chorou.
“Ela foi muito bem, sobretudo na redação. O curso que ela vai fazer dura cinco anos. Se ela não tivesse conseguido essa bolsa, teria que pagar por mês R$1.109, 60 para ter acesso a formação. Esperamos que ela faça e tenha uma carreira de sucesso”, declarou a representante da faculdade, Priscila Castilho.
Uma das pessoas que contribuíram para o aprendizado da detenta foi a professora Francisca Luciana de Oliveira, que agora diz ter orgulho da aluna. “Ela é bem dedicada no que faz, tanto é que ela esteve pouco tempo conosco em sala de aula. É um mérito dela e a gente fica gratificada com isso. Vamos torcer que ela continue nessa linha de pensamento porque só ocorre mudança através da educação”, disse.
Aulas
Segundo a direção do presídio, o judiciário está analisando a possibilidade da detenta responder o processo em regime semiaberto. Caso ela não consiga, possivelmente receberá escolta policial para frequentar a faculdade. “Isso ainda vai ser ajustado, mas daremos a maior força no que for necessário”, explicou o diretor geral Alexandro Pereira da Silva.
G1