A Usina Hidrelétrica Jirau, localizada no Rio Madeira a 120 quilômetros de Porto Velho, foi inaugurada oficialmente nesta sexta-feira (16) com a presença do ministro de Minas e Energia, Fernando Bezerra Filho e embaixadores de outros países, como Bélgica e França. Com investimento de R$ 19 bilhões, o empreendimento agora é o terceiro maior gerador de energia elétrica do Brasil.
O projeto possui 50 unidades geradoras em operação comercial com potência instalada de 3.750 megawatts, capaz de atender a cerca de 40 milhões de pessoas.
As obras de construção civil de Jirau começaram em 2009 e a montagem eletromecânica das turbinas em 2010. O projeto surgiu como alternativa de atender a demanda de energia do setor elétrico brasileiro e é uma das maiores obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). No total, foram implantadas 50 unidades geradoras do tipo bulbo distribuídas em duas casas de força, uma localizada na margem esquerda do Rio Madeira e outra na direta.
Jirau começou a gerar energia em 2013, com o início do funcionamento da primeira unidade geradora. As demais turbinas entraram em operação comercial gradativamente ao longo dos últimos três anos. A 50ª e última unidade geradora começou a operar no dia 23 de novembro deste ano, consolidando a implantação do projeto, com 20 meses de atraso em relação ao cronograma, conforme a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).
O presidente do conselho da Energia Sustentável do Brasil (ESBR), Maurício Bähr, explica que os motivos do atraso foram algumas algumas dificuldades enfrentados pelo projeto.
“O principal motivo foram os atos de vandalismo que nós tivemos aqui no canteiro de obras, em 2011, 2012, que acabaram gerando um desalojamento de funcionários. Os alojamentos foram incendiados e, com isso, perdemos 10 mil trabalhadores naquela época, isso gerou um atraso por força maior, que acabamos compensando depois nos últimos dois anos e hoje já estamos gerando em plena capacidade”.
Com a implantação das hidrelétricas Jirau e Santo Antônio, o estado de Rondônia passou a integrar o Sistema Interligado Nacional (SIN) e a gerar energia para abastecer o Acre e as regiões Sul e Sudeste. A energia é distribuída por meio do linhão de corrente contínua, que liga a subestação coletora de Porto Velho à cidade de Araraquara (SP).
O presidente da ESBR, Victor Paranhos, afirma que Jirau será responsável por gerar 3,7% de toda a energia produzida no Brasil e que Rondônia terá um dos cenários energético mais confiáveis do país.
“Tenho certeza que Rondônia é o estado que vai ter a maior segurança energética do Brasil. O povo de Rondônia pode ter certeza que terá a melhor energia do Brasil daqui pra frente”, disse.
Como forma de compensações, a concessionária informou que desde 2010 já investiu R$ 1,5 bilhões em 34 programas socioambientais.
Até o final deste ano, Jirau deverá estar pagando cerca de R$ 100 milhões por ano em royalities. Deste valor, 45% será para o município, 45% para o estado de Rondônia, 3% para o Ministério de Meio Ambiente, 3% para o Ministério de Minas e Energia e 4% para o Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico.
Inauguração
O evento de inauguração da Usina Hidrelétrica Jirau contou com a presença do ministro de Minas e Energia, Fernando Bezerra Filho e reuniu autoridades locais, nacionais e internacionais, como os embaixadores de países como a Bélgica e França, além de funcionários da ESBR.
Na ocasião, o ministro de Minas e Energia, Fernando Bezerra Filho, falou sobre os desafios do setor elétrico nacional. Segundo ele, o setor enfrenta problemas que precisam ser solucionados. Entretanto, Fernando se demonstrou otimista. “Apesar de todas as dificuldades momentâneas que o Brasil está vivendo, nós vamos sair bem mais forte desse momento que o Brasil hoje vive”.
“Se o crescimento econômico ainda não veio, ele haverá de vir e são empreendimento como esses que vai levar o país nos próximos anos a certeza de um crescimento com um preço de uma energia competitiva, uma energia barata, conectando Porto Velho, conectando Rondônia com o Brasil”.
Sobre Jirau, o ministro enfatizou: “é mais uma contribuição para a segurança energética do país, com uma energia limpa, nós temos muito orgulho da participação hidráulica na nossa matriz energética, nós queremos sim continuar crescendo nas renováveis”.
Fernando Filho aproveitou a ocasião e anunciou a assinatura do início dos estudos de uma hidrelétrica binacional, que deverá ser construída na fronteira do Brasil com a Bolívia, que de acordo com ele, será mais uma alternativa para gerar emprego e desenvolvimento e “acima de tudo garantir a energia que o Brasil tanto precisa”, disse.
Implantação do empreendimento
Em 2008, a Energia Sustentável do Brasil S.A (ESBR), concessionária da Usina Hidrelétrica Jirau, venceu o leilão de concessão do empreendimento. No seguinte, o canteiro de obras começava a ser instalado junto com o início das obras civis. Em 2010, a montagem eletromecânica das turbinas iniciou com o lançamento das primeiras virolas dos tubos de sucção – local de saída da água após movimentar as turbinas.
No total, foram empregados na obra mais de três milhões de metros cúbicos de concreto armado, o suficiente para construir cerca de 40 estádios de futebol. O aço aplicado na construção soma 7,5 mil toneladas, o equivalente ao peso de 11 torres Eiffel.
Os trabalhos de escavações em solo totalizaram 22 milhões de metros cúbicos. No pico dos trabalhos, o canteiro de obras contou com cerca de 26 mil trabalhadores e chegou a gerar aproximadamente 60 mil empregos diretos e indiretos.
A hidrelétrica utiliza a tecnologia fio d’água, pois abriga turbinas do tipo bulbo, que são unidades geradoras instaladas na posição horizontal que opera com baixas quedas de água, dispensando a formação de extensos reservatórios, como aqueles utilizados em usinas com turbinas que funcionam na posição vertical.
Inicialmente, o projeto contemplava possuir ao final de sua construção a potência instalada de 3.300 megawats e 44 turbinas tipo Bulbo. Após conseguir autorização para elevar para 50 o número de máquinas, a usina passou a ter capacidade instalada de 3.750 megawatts considerando a produção de energia no período chuvoso, época que a vazão do rio aumenta.
Entretanto, em épocas com baixa vazão, a geração energia é reduzida para 2.205,1 MW, que é a garantia física da usina.
Paralisações e conflitos
O canteiro de obras da Usina Hidrelétrica Jirau foi cenário de conflitos e manifestações de trabalhadores, que alegavam melhores condições de trabalhos, reajuste salarial, dentre outros benefícios pleiteados durante acordos coletivos.
Em março de 2011, por exemplo, a hidrelétrica foi surpreendida com um motim entre os trabalhadores. Em princípio, a manifestação era um protesto contra as condições de trabalho e segurança. Quase 50 ônibus que faziam o transporte dos trabalhadores e 35 alojamentos foram queimados ou destruídos. Outras 30 instalações da usina foram danificadas, segundo a Secretaria de Defesa e Cidadania do Estado (Sesdec). O inquérito da Polícia Civil constatou que houve ação de vândalos dentro do canteiro de obras.
As obras foram suspensas novamente em abril de 2012, depois que um grupo incendiou vários alojamentos do canteiro de obras. Dos 53 alojamentos em uma área, 39 foram destruídos pelas chamas. Na época, 120 homens da Força Nacional chegaram a ser encaminhados para Rondônia para conter os incidentes dentro do canteiro de obras.
Em agosto deste ano, o Ministério Público Federal de Rondônia (MPF-RO) pediu, na Justiça Federal do estado, o cancelamento da licença de operação da usina hidrelétrica de Jirau. Entretanto, teve o pedido negado.
Na ação protocoloda da na Justiça Federal, o MPF quer que a empresa cumpra integralmente as condicionantes do licenciamento ambiental, principalmente ao fato de apoiar à atividade pesqueira, com pagamentos imediatos de auxílio financeiro para todas as 53 famílias indicadas no laudo pericial do órgão. O valor deve ser igual ao que as famílias remanejadas ou o do seguro defeso.
Questionado sobre o assunto, o presidente do conselho da ESBR, Maurício Bähr, disse ao G1 que ainda existem questões a serem discutidas. “Nós investimos aqui R$ 1,5 bilhão em compensações socioambientais em 34 programas, além de programas voluntários. Sempre tem algum tipo de insatisfação que a gente precisa tratar e vamos dialogar, entender e tratar”, enfatizou.
Fonte: G1