A Fundação Universidade Federal de Rondônia (UNIR) firmou acordo de cooperação técnica binacional com o Jardim Botânico de Nova York (The New York Botanical Garden – NYBG) com o objetivo de que os dois países, Brasil e Estados Unidos, trabalhem juntos para estudar e conservar a biodiversidade vegetal do Estado de Rondônia. A assinatura do acordo, que terá validade de cinco anos podendo ser renovado por mais cinco, ocorreu no início de maio.
Os projetos de pesquisa e ensino envolvendo a cooperação com o NYBG serão coordenados por pesquisadores do Herbário Rondoniense “João Geraldo Kuhlmann” (RON), da UNIR, são eles os professores mestres Antônio Laffayete Pires da Silveira e Narcísio Costa Bigio, ambos do Departamento de Biologia (DBIO).
A cooperação técnica visa o treinamento e desenvolvimento de novas gerações de botânicos, preferencialmente taxonomistas, mas também ecólogos, para integrar grupos de pesquisa locais, regionais ou nacionais, e promover o fortalecimento dos cursos de graduação e pós-graduação, englobando a capacitação de profissionais na área de taxonomia vegetal, florística, biogeografia, filogeografia e ecologia no Brasil e no exterior, além de desenvolver propostas de pesquisa e educação junto às comunidades florestais. Com o fortalecimento da graduação, da pós-graduação e da pesquisa na Universidade, a intenção é que a UNIR se torne referência nos assuntos relacionados aos recursos vegetais do Estado.
Basicamente, as atividades desenvolvidas pelos pesquisadores serão de levantamento, coleção, identificação, mapeamento e análise da flora do Estado. Num segundo momento, as informações científicas e os resultados obtidos pelas pesquisas deverão ser divulgados e disponibilizados, inclusive em plataforma online, para acesso dos demais pesquisadores interessados.
Laffayete explica que, assim como a UNIR, outras instituições também realizam pesquisa em parceria com o Jardim Botânico enviando amostras de espécies da flora rondoniense e brasileira por segurança, para garantir a conservação em caso de extinção.
“É comum que as plantas do Brasil sejam enviadas para fora do país e é importante deixar claro que isso não é biopirataria, isso é ciência. Os herbários do Brasil inteiro fazem isso para facilitar a pesquisa. O Herbário de Nova York, por exemplo, tem mais de 1,5 milhão de amostras. Então, é mais fácil ir direto lá para pesquisar do que sair garimpando espécies nos herbários do Brasil que são muito regionalizados”, explicou o professor.
Coleta botânica na Resex Cuniã
E já nesta sexta-feira, dia 3, pesquisadores do Herbário da UNIR e do Herbário de Nova York sairão para uma nova expedição de coleta botânica na Reserva Extrativista Lago do Cuniã. Os pesquisadores pretender manter uma média de quatro coletas por ano durante os cinco anos de vigência do acordo de cooperação técnica. Nessa coleta, os pesquisadores estarão em campo até o dia 10 de junho.
Importância ecológica e econômica
De acordo com o professor Laffayet, a proposta da cooperação é impulsionar e facilitar as pesquisas que já são desenvolvidas no Herbário da UNIR. A opção pela associação com o Jardim Botânico de Nova York foi devido à existência de um objetivo comum entre os dois herbários que é o de estudar a flora do sudoeste da Amazônia, utilizando o conhecimento já produzido e registrado pelo NYBG.
Nos últimos dois anos, pesquisadores da UNIR foram a campo para realizar coletas botânicas com o objetivo de conhecer, registrar e descrever a flora e a vegetação do estrado de Rondônia. Uma vez coletado, o produto dessas buscas é guardado em herbários, dentre os quais o próprio RON e o NYBG. Após o processo de secagem, montagem e registro os números coletados ficam disponíveis para pesquisadores em bancos de dados online.
Atualmente, existem cerca de 40.000 amostras coletadas em Rondônia e guardadas em herbários. No herbário da UNIR há uma média de 15.000 amostras, mas são números muito baixos quando se leva em consideração o tamanho e a diversidade da flora amazônica e rondoniense, conforme explicou Laffayet. Os pesquisadores tem acrescentado cerca de 2.500 novas amostras por ano ao Herbário Rondoniense. A intenção é que esse número suba para 5.000 amostras ao ano com o estabelecimento de novas parcerias.
As coletas realizadas em diferentes pontos de Rondônia são importantes para que os pesquisadores compreendam a distribuição das espécies ao longo do estado. Esse trabalho é fundamental para que se possa indicar, por exemplo, quais espécies e em que local elas deverão ser plantadas nos processos de recomposição e recuperação de áreas degradadas.
“Quando se pergunta ‘que espécie ocorre em Jaru’ ou ‘que espécie ocorre em Costa Marques’ o que precisamos fazer é vir pro herbário e tentar verificar como acontece essa distribuição e onde que ocorrem essas espécies para indicar o que deve ser plantado. Mas nós ainda não temos esses dados para todas as espécies. Esse estudo que estamos fazendo agora é base para que indicações como essas possam ocorrer”, afirmou Laffayet.
E o trabalho minucioso dos pesquisadores já começa a apresentar resultados: sete novas espécies para a ciência estão sendo descritas em Rondônia. Isso significa que estas espécies não foram registradas em nenhum outro lugar no mundo a não ser aqui no estado. “É fruto desse trabalho e a gente imagina que muitas outras virão, pois muitas espécies em Rondônia ainda não foram descritas” disse o professor argumentando sobre a importância do trabalho de coleta e registro de espécies. “O conhecimento da flora de uma determinada região e das espécies que estão ocorrendo gera argumentos para propor aos setores políticos, por exemplo, a criação de unidades de preservação. Então, são várias as utilidades desse trabalho, desde econômicas até de preservação e conservação”, finalizou o professor.
Herbário Rondoniense
O Herbário Rondoniense “João Geraldo Kuhlmann” (RON/UNIR), foi criado em 2009 com a finalidade de registrar a riqueza florística do estado de Rondônia e sudoeste da Amazônia, formar recursos humanos para pesquisa e promover o intercâmbio com outros herbários do país e do mundo. Atualmente, conta com cerca de 15.000 amostras, sendo todo o acervo disponível online e com fotos no endereço eletrônico www.ron.unir.br.
Por Rondôniagora