A jovem destacou sobre Lei que impede doação de sangue pelo prazo de 12 meses por pessoas oriundas de cidades consideradas “endêmicas”
Uma advogada vilhenense que mora atualmente na cidade de Maringa-PR, desabafou em uma rede social sobre um fato, no qual, se sentiu discriminada pelo simples fato de ter vindo de um Estado da região Norte, e de acordo com a publicação ela teria ido até um hemocentro da cidade para doar sangue, durante a triagem e após responder um questionário ela relata que foi considerada inapta pois era oriunda do Norte do país. Confira a publicação da jovem:
Hoje pela primeira vez desde que cheguei a Maringá eu sofri preconceito por vir da minha terra querida que é Rondônia. No dicionário a palavra preconceito significa: “qualquer opinião ou sentimento concebido sem exame crítico.” Eu já passei por várias situações em minha vida em que sofri preconceito, com perguntas do tipo “e como é conviver com a onça?”, ou então, “tem índio pelado correndo na rua?”, mas nunca me magoou tanto como hoje, em que a minha origem foi colocada como se eu fosse menos do que as pessoas que viveram e nasceram no sul. Eu e minha irmã fomos até o hemocentro na tentativa de doar sangue, como inocentes acreditávamos que seriamos bem recebidas por estar fazendo este gesto solidário. Ao contrário do que esperávamos fomos classificadas como não doadoras, pasmem, porque morei em Rondônia. Eu indignada perguntei o porquê desse fato ser um problema, e novamente, pasmem, justificou o médico “por causa da malária”. Eu queria rir da cara dele, mas não consegui, apenas fiquei chateada, porque eu sai de Rondônia, crendo que conheceria mais sobre o mundo, veria novidades, aprenderia novas coisas e descobri que de certa forma, eu conheço mais do mundo do que os próprios sulistas, eu sei que Rondônia, Acre, e até mesmo o Amazonas, tem muito mais a oferecer do que malária, do que onça, do que índio, e de todo esse PRÉ-CONCEITO, que as pessoas tem, mas que a grande maioria não busca conhecer com exame crítico. Através de piadinhas que humoristas conhecidos formulam, histórias contadas da época da carochinha, contos e fabulas lidas nos livros infantis, as pessoas tem uma ideia de que o norte esta atrasado. Estou realmente chateada, porque vim para o Sul em busca desta fabula que as pessoas contam lá no norte, sobre o Sul onde tem qualidade de vida, uma melhor estrutura, pessoas aculturadas, e devo narrar que até o presente momento, tenho encontrado aqui a mesma coisa que encontro na minha cidade de origem, um governo corrupto, professores sofrendo opressão, alunos insatisfeitos com instituições, uma sociedade que tenta burlar a todo momento o sistema e pasmem, preconceito social. Nasci e morei a 25 anos em Rondônia, nunca tive malária, nunca tive dengue, e era doadora ativa no hemocentro de Vilhena, uma cidade de aproximadamente 90.000 habitantes com apenas 37 anos. Acredito que nas próximas campanhas formuladas pelo governo para doação de sangue, deveriam colocar em letras bem grandes que pessoas que nasceram no norte, não são aptas a serem doadoras, porque podem transmitir força, garra e determinação. Porque pra mim essa é a única doença crônica que existe por lá.
Após a repercussão do caso, ela procurou profissionais da área da saúde da cidade em que mora e os mesmos esclareceram a situação, informando que há uma Lei que impede, as pessoas que vieram de cidades consideradas endêmicas doem sangue pelo período de 12 meses devido ao risco de transmissão de doenças como a malária.
A lei, no entanto não se aplica a cidades da Região Norte, já que assim consequentemente não haveria doações de sangue.
A jovem esclarece que entende a situação, mas que não crê que essa lei seja prática, já que analisa de forma genérica a região, considerando sua totalidade como pré-disposta a transmissão de doenças infecciosas.
Ela ainda deixa claro, que em momento algum foi mal atendida pela equipe de enfermeiros ou pelo médico, mas que não sabia da existência dessa lei.
O desabafo da jovem se dá pelo acumulo de piadas preconceituosas, onde pessoas que não conhecem a região e julgam de forma pejorativa, acreditando que as cidades são povoadas por animais selvagens como onças, capivaras e cobras, com baixa qualidade de vida e julgando os nortistas como inferiores em cultura e intelectualmente.
O caso desta jovem lembra que já se tornou comum humoristas propagarem estereótipos nortistas alimentando ainda mais o preconceito histórico, voltado à Região Norte, com piadas como “você anda com onça no lugar de cachorro” acabaram se tornando “verdades absolutas” devido à ignorância e a falta de vontade de conhecer como é verdadeiramente o norte do Brasil.
Texto: Alan Souza
Foto: Rede Social