Sábado, 28 de junho de 2025 - [email protected]


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Festa Camponesa começa em Rondônia marcada pela diversidade da Amazônia


 

 

Neste primeiro dia, debates sobre o Congresso Nacional, o agronegócio e a crise ambiental tiveram centralidade

 

 

 

Por Janelson Ferreira

 

MST/Via Campesina

 

 

Nesta sexta-feira (27), teve início em Jaru, Rondônia, a oitava edição da Festa Camponesa. A atividade, organizada pela Via Campesina, terá em sua programação feira de alimentos saudáveis, culinária da terra, apresentações artísticas, mesas de debates e oficinas.

 

Ao todo, mais de 500 camponeses contribuem na organização do evento. Além de camponeses, estão envolvidos ribeirinhos, indígenas e estudantes da UNIR. Nesta edição, também há a participação de representação de militantes da Colômbia e da Bolívia.

 

Ao longo de três dias, as famílias camponesas levarão para Jaru, cidade com mais de 50 mil habitantes, toda a diversidade da produção de seus territórios. Derivados de mandioca, café, frutas típicas da Amazônia, culinária da terra e vários outros alimentos serão comercializados com a população da cidade.

 

No sábado (28), a partir das 16h30, ocorrerá a troca de sementes. Para o momento, famílias de todo o estado levarão sementes para serem trocadas. Na última edição da Festa, em 2023, foram mais de 350 variedades presentes, todas crioulas. Já no domingo (29), a partir das 9h da manhã, haverá o Café Camponês, no qual as famílias camponesas ofertarão gratuitamente um banquete produzido com alimentos saudáveis.

 

Na mesa de abertura, Débora Nunes, da direção nacional do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), e Luiz Novoa, historiador e professor da UNIR (Universidade Federal de Rondônia) contribuíram com a análise do contexto político atual e o avanço do capital.

 

“O Congresso quer acabar com a possibilidade de Lula governar”, afirmou Novoa. Segundo o professor, as elites do país defendem uma ideia de que a destruição de políticas sociais liberará maiores recursos para eles. “No fundo, o empresariado gostou de Bolsonaro e Paulo Guedes e querem aquelas políticas de volta”, destacou.

 

Novoa ainda destacou que há um enfrentamento direto às organizações populares. “Os mercados não suportam nossa capacidade de organização social, a luta coletiva e nossa ancestralidade”, ressaltou. “Dentro deste cenário, estamos encurralados pelo Congresso e pelo mercado” finalizou o historiador.

 

“Além de termos um Congresso ruim, ele está se especializando em ser fantoche do mercado financeiro e do agronegócio. Apesar de ter ministérios no Governo Lula, tem seus interesses próprios”, destacou Débora Nunes.

 

Nunes apontou que esta ofensiva contra a classe trabalhadora não está restrita ao Brasil. “A gente vivencia, no plano internacional, uma crise estrutural do capital e da hegemonia do imperialismo dos Estados Unidos. É por isso que Donald Trump anunciou que retomaria o controle do seu quintal, a América Latina. Esta é uma decisão que atinge diretamente a soberania dos povos latinos”, explicou.

 

A dirigente apontou que, no Brasil, o agronegócio é expressão destas crises. “Desde os anos 1990, o agronegócio é este modelo que transforma os bens da natureza e os territórios em mercadoria, sem preocupação com quem está no meio do caminho” disse.

 

Segundo o IBGE, em 2000, a produção de soja em RO era de 50 mil hectares. Em 2024, este número subiu par 450 mil, ou seja, um crescimento de 900%. O milho, ocupava 300 mil hectares em 2024. Já o feijão estava restrito a somente 5 mil hectares e a mandioca, 30 mil hectares.

 

 

 

“Questão ambiental é sobre disputa política e de poder” apontou pesquisadora

 

Letícia Tura, pesquisadora diretora executiva da ONG FASE, apontou que o agronegócio é o principal responsável pela destruição ambiental no Brasil. Tura participou da mesa “Capital, mudanças climáticas e a resistência dos povos”, ao lado de Océlio Muniz, dirigente do MAB (Movimento dos Atingidos por Barragens).

 

De acordo com dados do MAPBiomas, em 2024, Rondônia apresentou uma redução de mais de 50% no desmatamento, comparado com 2023. No entanto, o estado ainda registrou uma destruição de mais de 20 mil hectares no período. Em 2024, o estado também registrou o maior número de incêndios nos últimos 14 anos. Foram mais de 7 mil focos de incêndio entre janeiro e setembro, de acordo com o INPE. Somente em Porto Velho, capital, foram mais de 2 mil focos.

 

Segundo Tura, a questão ambiental e fundiária são dois lados da mesma moeda. “Não teremos solução se não revertermos este eixo de sustentação econômica, baseado no agronegócio”, apontou a pesquisadora.

 

“Camponeses, ribeirinhos e indígenas não são causadores da crise climática, mas somos os mais impactados por ela”, lembrou Océlio Muniz. Segundo o dirigente, o poder público não está preparado para enfrentar as mudanças climáticas e quem sofre com isso é o povo que mais necessita.

 

“Se não discutirmos alternativas viáveis para enfrentar de forma comunitária e pressionar o poder público não teremos solução. E este será mais um caso de expulsão do povo da terra”, ressaltou.

 

 

 

“Fomos formados por intervenções violentas”

 

É a oitava vez que a Via Campesina organiza a Festa Camponesa naquele que é considerado um dos estados mais conservadores do país. No segundo turno das eleições presidenciais, em 2022, Jair Bolsonaro teve 70,5% dos votos – o quarto estado onde o candidato teve maior votação.

 

De acordo com Débora Nunes, isto destaca a importância de seguirmos fazendo a disputa das ideias com a sociedade. “As eleições se encerraram, mas a disputa ideológica continua. Precisamos retomar a perspectiva popular de diálogo com a sociedade”, apontou.

 

Rondônia é também um dos estados com maior número de CACs (caçadores, atiradores e colecionadores) registrados. Se em 2018, haviam 5 mil CACs registrados, este número saltou para 25 mil em 2022. Tal crescimento está fortemente vinculado ao avanço do agronegócio e ao discurso da “autodefesa da propriedade rural”.

 

“Fomos formados por intervenções violentas e isto determinou quem manda no estado”, refletiu o professor Luiz Novoa. “Estas rodovias, as hidrelétricas, os portos, fizeram com que indígenas, ribeirinhos e pescadores se tornassem uma massa de miseráveis”.

 

Orcélio Muniz também destacou como os grandes projetos conformaram um estado excludente. “Estamos um território no qual o povo está sendo expulso para dar lugar a projetos que não geram riqueza para todos”, explicou.

 

Tanto as usinas hidrelétricas Santo Antônio (inaugurada em 2012) como a Jirau (inaugurada em 2016) causaram grandes impactos. Enquanto a primeira provocou alteração no ciclo do rio Madeira (um dos mais importantes da Amazônia), afetando comunidades ribeirinhas, a segunda forçou o deslocamento de indígenas do povo Karipuna.

“É por tudo isso que precisamos falar em justiça climática”, finalizou Muniz.

 

Assessoria



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