O levantamento foi apresentado pela Unicef e mostra, ainda, a necessidade de definir estratégias para mudar a situação Região Norte
A região Norte lidera o ranking das áreas do país com maior quantidade de crianças com menos de 5 anos vivendo em zonas de riscos de desastres naturais. O número foi apresentado no relatório “Crianças, adolescentes e mudanças climáticas no Brasil – 2022”, divulgado pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) com base em dados obtidos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no Censo 2010 – último a ser realizado. Além de definir estratégias para contornar a situação, o monitoramento visa minimizar os efeitos dos desastres sobre a população.
O cenário é histórico e caracterizado pela urbanização desordenada em que famílias, por pressões econômicas e de políticas públicas, fixaram-se em áreas geográfica e ecologicamente vulneráveis: planícies inundáveis, encostas íngremes, moradias precárias, falta de acesso a saneamento básico e diversos outros serviços essenciais. Ainda de acordo com o estudo, o adensamento populacional, somado a estes fatores, colabora para o aumento dos impactos e para a gravidade das perdas vindas.
Apesar do rankeamento não ser favorável à região Norte no que diz respeito a qualidade e segurança de moradia, a área está entre as menos propensas à ocorrência de desastres naturais – geológico, hidrológico, meteorológico, climatológico e biológico, de acordo com a Classificação e Codificação Brasileira de Desastres (COBRADE). “A região Nordeste responde por 60,3% dos eventos no período, seguido da região Sul, com 21,2%. Na região Sudeste ocorreram 13,6% dos desastres, na região Norte ocorreram 2,9% dos eventos e no Centro Oeste, 2%”, destaca o levantamento.
As mudanças climáticas ocorridas são as grandes responsáveis por essa realidade, tornando-se cada vez mais comuns ao longo das próximas décadas, ainda que metas e objetivos de emissões sejam alcançados. A Unicef, baseada em dados do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), aponta no relatório que “entre os anos 2010 e 2019, os desastres oriundos de fenômenos climáticos mataram 1.734 pessoas no Brasil, afetaram 211 milhões de pessoas, e custaram prejuízos de mais de R$300 bilhões. É preciso adaptar a infraestrutura e as comunidades para reduzir os riscos e os desastres”.
Riscos afetam mais crianças pequenas
Crianças e adolescentes são as mais afetadas pelas mudanças climáticas por uma série de fatores que envolvem o senso de percepção de risco, a capacidade motora, utilização da visão periférica, entre outros. Ou seja, a vulnerabilidade é tanto maior quanto a idade for menor. A prioridade, além de pensar nas consequências imediatas, como a desnutrição, evasão escolar e abuso sexual, observa também a realidade a longo prazo, no que diz respeito ao bem-estar e ao desenvolvimento futuro.
O artigo 225 da Constituição Federal de 1988 determina que todos têm direitos a um meio ambiente ecologicamente equilibrado, o que coloca em questão a necessidade de mudanças. “A garantia dos direitos de crianças e adolescentes é prioridade absoluta, e inclui inexoravelmente o direito a um meio ambiente ecologicamente equilibrado. Crianças e adolescentes têm direito a acessar espaços verdes, naturais… Isso inclui poder acessar parques urbanos limpos, seguros e perto de casa – condições que 60% dos moradores das maiores cidades brasileiras não tinham em 2020”, afirma o documento.
Relatório define ações de prioridade para minimizar problemas
Os eventos climatológicos correspondem a 71,3% das situações, ao passo que hidrológicos são 18,2%, meteorológicos, 9%, e desastres físicos somam 1%. No Norte, as queimadas na Amazônia em 2020 e as cheias extremas que atingiram o Amazonas em 2021 e 2022 ganham destaque no panorama nacional.
A solução apresentada no relatório passa por ações descritas nas fases do ciclo de Gestão do Risco e do Desastre (GRD), que corresponde ao planejamento, coordenação e execução de medidas para reduzir os riscos de desastres, definindo quatro prioridades: compreensão de risco de desastres; fortalecimento da governança do risco de desastres para gerenciar o risco de desastres; investimento na redução do risco de desastres para a resiliência; e melhoria na preparação para desastres.
Por: diariodaamazonia