Vinte e quatro municípios estão em situação de emergência no Amazonas. A cheia dos rios deixou milhares de famílias ribeirinhas isoladas, com falta de comida.
Rafaela dos Santos começa o dia verificando se tem alimento suficiente para a família. O pouco que encontra precisa render para os três filhos pequenos.
“O filho pergunta se tem, e não tem nada. Às vezes, tem comida, outras vezes, não. Às vezes, ele abre a geladeira e não tem nada. Não tem de onde tirar”, diz a agricultora.
De acordo com uma pesquisa feita pelo IBGE sobre insegurança alimentar no país, 65% das famílias amazonenses compartilham da mesma preocupação da Rafaela. E em muitos municípios no interior do estado a situação se agrava devido à cheia dos rios.
Angelita Lima precisou abandonar a casa este ano. Ela também perdeu as plantações, e comer se tornou um desafio.
“Tem que comer um pouco mais no almoço, e na janta ter um pouco. Se não, no outro dia pode faltar”, diz a agricultora.
Algumas famílias dependem da produção da farinha de mandioca, mas muitos fornos também foram invadidos pela água. José Meireles chegou a fazer um pequeno estoque. Para complementar a alimentação, ele pesca o dia inteiro, e nem sempre volta com peixes suficientes.
“Tem que ir para mais longe, temos que andar atrás deles. Você tem que andar na mata para encontrar”, conta o agricultor, que pesca em áreas de floresta alagada.
Segundo a Defesa Civil do Amazonas, 24 municípios estão em situação de emergência. Entre eles, o Careiro da Várzea, há 25 quilômetros da capital Manaus. Plantações inteiras foram inundadas.
“A dificuldade é muito grande. Tem dia que a gente não tem o que comer, porque quando a gente está plantando, a gente consegue colher toda semana um pouquinho, mas vocês estão vendo a realidade”, lamenta a agricultora Maria de Nazaré.
ONGs têm percorrido os municípios atingidos pela cheia. Para as famílias em situação de insegurança alimentar são entregues cestas básicas.
“A cesta básica é pensada para uma família de cinco a seis pessoas, onde nós entendemos a necessidade daquela região”, explica a gerente do projeto, Angela Mota.
De acordo com o serviço geológico do Brasil, a cheia no Amazonas deve atingir seu nível máximo em junho. E mesmo com o auxílio emergencial dado pelo governo do estado e as doações de organizações não governamentais, as próximas semanas se mostram desafiadoras em relação à alimentação para os ribeirinhos.
“A gente vai levando com o milagre de Deus e nossas possibilidades”, diz Maria de Nazaré.
Fonte: G1