A Federação dos Cultos Afro-religiosos, Umbanda e Ameríndios do Estado de Rondônia (Fecauber) divulgou uma carta aberta reclamando da falta de ação da Polícia Militar (PM) em casos de vandalismo em um terreiro de Porto Velho. O documento foi direcionado à Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesdec). Segundo as lideranças religiosas, o último caso foi no sábado (14).
Objetos quebrados, comidas e bebidas furtadas e um carro danificado foi o cenário que a mãe de santo Tawannah Silva encontrou quando chegou no terreiro de umbanda no último final de semana. Os cultos são realizados no local semanalmente.
Um assentamento e uma quartinha foram danificados. Eles são objetos sagrados. O terreiro que fica localizado na Zona Leste de Porto Velho iniciou as atividades religiosas há pelo menos dois anos e vem sofrendo ataques contínuos desde então.
“Sábado foi mais um dos atos que desde então a gente vem sofrendo, quando dois integrantes da casa vieram até aqui e a gente pôde perceber que tinha sofrido mais um ataque. Já é o terceiro. Na mesma hora eu fui comunicada e a gente viu que tinham sido furtadas algumas coisas, quebrados alguns vasos religiosos. Tentei comunicação com a PM, sem nenhum retorno”, conta a mãe de santo.
Três boletins de ocorrência já foram registrados por causa dos furtos e desentendimento entre um vizinho e os membros do terreiro. Nenhum deles foi registrado como crime de intolerância religiosa, e no último boletim feito, segundo Tawannah, a polícia não foi ao local.
“Não tivemos sucesso. Liguei novamente para a Polícia Militar, sem nenhum sucesso também. Eles alegam que não encontram o endereço”.
Intolerância consiste em perturbar, impedir as práticas de culto religioso e também danificar objetos sagrados. O crime pode resultar em pena de um mês a um ano de prisão.
A Federação emitiu uma nota de repúdio à PM. Para o vice-presidente da Fecauber, Marconi Moraes de Vasconcelos, esses atos de violência têm sido naturalizados e há omissão dos órgãos responsáveis pela segurança pública.
“As comunidades e terreiros são invisíveis. Não temos participatividade, não somos ouvidos, causamos incômodo, e isso tem sido uma regra. Não é o primeiro terreiro que é atacado. Na cidade de Buritis um terreiro além de depredado, queimado. Tocaram fogo no terreiro inteiro e nada foi feito até agora. Fica nessa coisa de um gestor jogar para a outra gestão e assumir a situação ninguém assume. Como comunidade de axé a gente já está farto dessa invisibilidade, desse descaso por parte dos órgãos responsáveis pela segurança”.
O caso deve avançar judicialmente. A federação tem uma equipe jurídica que dá esse suporte aos templos que precisam de ajuda. Enquanto isso, a medida encontrada para proteger o local de novos ataques foi a instalação de uma cerca elétrica para impedir a entrada de vândalos, mas o medo continua.
“Hoje o que eu consigo sentir é um abalo emocional e medo. Medo por mim, medo pela minha casa, de não poder exercer a minha religião, já que a gente vive em um país laico. Então hoje eu tenho medo de chegar aqui e me deparar com isso, tenho medo de ser atacada, medo pela vida dos filhos de santo dessa casa. O que eu consigo ter hoje é só medo”, desabafa a mãe de santo.