Mesmo ainda sem os dados completos de outubro, o desmatamento na Amazônia no mês foi recorde e apresenta um crescimento de 37% em relação a outubro de 2019.
Até o último dia 23, foram derrubados cerca 758 km² de floresta, mostram dados do Deter, programa do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) que visa ajudar órgãos governamentais no combate ao desmatamento. Tais dados podem também ser usados para observar tendências de aumento ou diminuição de desmate.
O recorde anterior para um mês de outubro pertencia a 2016, com cerca de 750 km² de destruição. O histórico recente do Deter, contudo, só tem início a partir de 2015, o que impossibilita comparações mais distantes.
O aumento ocorre na esteira de meses com elevados números de desmate. Julho e agosto tiveram derrubadas acima dos 1.000 km² e setembro não ficou muito distante da marca. Os quatro últimos meses somados (4.736 km²) já ultrapassam, por exemplo, o desmatamento ocorrido em todo 2011-2012 (4.571 km², registrados pelo Prodes, programa do Inpe que mede com maior precisão o desmate anual), período a partir do qual voltou a ocorrer um aumento do desmatamento.
Mesmo com os números elevados, o general Hamilton Mourão, vice-presidente e chefe do Conselho da Amazônia, vinha atravessando e se adiantando à atualização oficial do Inpe, e comemorando, via redes sociais, reduções percentuais na destruição nos últimos meses em comparação a 2019.
Tal diminuição, porém, vinha ocorrendo (em julho, agosto e setembro) sobre os meses com maiores níveis de desmate já registrados no bioma.
Até o momento, Mourão ainda não se manifestou em suas redes sociais sobre o aumento do desmate.
Os dados do Deter são semanalmente atualizados pelo Inpe e disponibilizados para consulta no site TerraBrasilis.
Os níveis elevados de destruição na foresta ocorrem em meio à presença, desde maio, das Forças Armadas na floresta para a Operação Verde Brasil 2, destinada a combate a ilícitos ambientais.
Mesmo com o Exército no local, tanto desmate quanto queimadas não dão sinal de arrefecer. As queimadas em outubro na Amazônia, por exemplo, apesar também da existência de uma moratória do fogo, chegaram ao segundo maior valor registrado na última década.
Enquanto os dados de destruição crescem, pouco se vê de planos concretos partindo de autoridades. A resposta à derrubada de matas costuma vir somente em forma de crítica aos críticos e às informações que apontam a destruição.
Recentemente, Mourão prometeu levar embaixadores de países que criticam a política ambiental brasileira para conhecer a Amazônia. A viagem deve ocorrer entre os dias 4 e 6 dessa semana. A ideia, segundo comunicado divulgado pela assessoria da vice-presidência, é “mostrar à comunidade nacional e internacional que a Amazônia brasileira continua preservada e que sua complexidade ambiental
e humana não permite um entendimento genérico da região”.
Na prática, porém, a iniciativa surgiu após aumento da pressão internacional quanto a devastação contínua e crescente da Amazônia sob Bolsonaro, e ameaças de boicote a produtos brasileiros associados ao desmatamento.
Em setembro, oito países europeus – Alemanha, Dinamarca, França, Itália, Holanda, Noruega, Reino Unido e Bélgica – enviaram carta a Mourão na qual afirmam que o aumento do desmate dificulta compra de produtos brasileiros.
Enquanto isso, a Secom (Secretaria Especial de Comunicação Social) do governo Bolsonaro começou a publicar em redes sociais uma campanha que iria abordar “interesses que nem sempre são claros sobre a preservação da Amazônia”.
Na prática, de início, a campanha já começou repetindo afirmações costumeiras e desprovidas de contexto com as quais Bolsonaro tenta se defender de dados que mostram o aumento da destruição.