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Médica é agredida na Terra Yanomami após morte de criança indígena


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Caso é investigado pela Polícia Federal. Agressões teriam ocorrido após a morte de uma criança indígena atendida pela médica 

A médica Maria Vanessa, de 38 anos, ficou traumatizada após ser agredida na Terra Indígena Yanomami, informou o marido dela, Josimar Ribeiro, nesta quinta-feira (23). Os ataques teriam ocorrido após a morte de uma criança indígena que foi atendida pela profissional. A Polícia Federal em Roraima investiga o caso.

Conforme o marido, a médica precisa ser dopada o tempo todo para aguentar as dores e já chegou a acordar assustada achando que seria agredida outra vez. A mulher teve os dois braços quebrados e sofreu um ferimento na cabeça. Ela continua internada no Hospital Lotty Iris, em Boa Vista.

Médica chegou a Boa Vista por volta de 19h40 dessa quinta-feira (16) — Foto: Raimesson Martins/Rede Amazônica

“Ela não tem condições físicas e nem psicológicas para voltar à região. O trauma foi muito grande. Até hoje, ela ainda tem dificuldades para dormir e está à base de remédios para pegar no sono. Ontem, ela ouviu um barulho no hospital e acordou desesperada achando que os indígenas queriam atacá-la de novo”, disse Ribeiro.

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Vanessa trabalhava no Distrito Sanitário Especial Indígena Yanomami (Dsei-Y). O caso ocorreu na região do Xitei, em Alto Alegre, ao Norte de Roraima. A distância entre o município e a capital é de a 72.46 km. Agora, o marido disse que aguarda a recuperação para pedir transferência para outro estado.

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Procurada, a Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) informou que tomou conhecimento, na última sexta-feira (17) “sobre a suposta agressão física sofrida por uma médica da Equipe Multidisciplinar da Saúde Indígena”.

A médica passou por duas cirurgias nos braços e se prepara para operar o braço esquerdo mais uma vez. Ela perdeu muito sangue e a família afirma que houve demora no socorro, uma vez que ela foi agredida no último dia 15 e levada da região indígena a Boa Vista cerca de 24 depois.

Segundo o advogado da vítima, Glaucinei Mesquita de Campos, ela teria sido atacada por 10 indígenas. A informação contraria o Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami e Ye’kuana (Condisi-Y), que informou que há quatro suspeitos das agressões.

“Eles só pararam de agredi-la depois de um tempo. Ela ainda se fingiu de morta, mas continuaram a bater nela e não deixaram ninguém socorrê-la. Um deles, inclusive, chegou a dizer que estava feliz com o que tinha feito”, explicou Josimar.

Ainda segundo Josimar, agora, eles vão entrar com um pedido de afastamento para tratamento de saúde da profissional.

Região do Xitei, em Alto Alegre, ao Norte de Roraima — Foto: Junior Yanomami

Morte da criança Yanomami

Conforme o advogado de Vanessa, a profissional fez um procedimento de retirada de bicho de pé – pequeno parasita que entra na pele e comum em zonas rurais – em uma criança da comunidade e teve um bom resultado.

Então, outra família pediu que fosse feito procedimento em outra criança. Conforme o advogado, o parasita foi retirado dos dois pés e região das nádegas do indígena, que morreu após o procedimento. Ele disse que não há como afirmar se houve “erro médico” e que ainda não foi realizada a perícia no corpo.

“Ela começou com o primeiro pé, aplicou a medicação, que seria um analgésico para a criança não sentir dor e quando foi à tarde, que ela foi fazer o procedimento no outro pé, foi que ocorreram as complicações”, informou o advogado.

Segundo o presidente do Condisi-Y, Júnior Yanomami, que foi até a comunidade apurar a ocorrência, a família afirmou que a criança “não tinha nada”, mas foi chamada pela médica para tirar “bicho de pé”.

“Conversei com um dos irmãos, ele declarou que fizeram isso e reconhece que erraram. Eles fizeram no momento de raiva, porque o irmão morreu e a mãe estava lutando, chorando. Mas isso não se justifica. Nós, representantes, repudiamos total contra isso. Toda a comunidade está muito chateada com a família”, disse Junior Yanomami.

Ainda conforme o relato da família, durante o procedimento, a criança perdeu muito sangue e quando já estava quase sem vida foi levada para a comunidade, que fica há dez minutos do posto de saúde. Os quatro irmãos da criança teriam ficado revoltados e responsabilizado a médica pela morte.

Nos próximos dias a médica deverá depor, por meio de videoconferência, para esclarecer os fatos à Delegacia de Polícia Civil de Alto Alegre.

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