Aconteceu nesta terça-feira, 12, o julgamento pelo Tribunal do Júri de Enilton Procópio, 31 anos, acusado pelo Ministério Público Estadual (MPE) de ser um dos participantes de uma chacina numa fazenda localizada na estrada da Farinheira a 60 km de Vilhena. O crime que chocou a cidade, pela brutalidade com que foi cometida, pois as vítimas foram mortas carbonizadas, aconteceu no dia 17 de outubro de 2015, nos lotes 75 e 85, do Setor 8, da gleba Corumbiara.
No dia do crime, cinco pessoas foram mortas: José Bezerra dos Santos (64 anos), Daniel Aciari (66 anos), João Pereira Sobrinho (52 anos), João Fernandes da Silva (52 anos) e Dagner Lemes Castanho (17 anos); e duas escaparam com vida dos criminosos: Ariovaldo Nunes da Silva e Arivaldo Bezerra dos Santos. O primeiro fugiu antes de ser ferido para um matagal próximo à propriedade e o segundo após baleado se fingiu de morto.
Conforme investigações da Polícia, cinco pessoas já devidamente identificadas participaram dos crimes: Ilário Daneli, conhecido como “Índio Branco”, indicado como o principal executor e que, atualmente está foragido da justiça; Eber Maciel da Costa e Marlos de Souza Cândido, ambos condenados no dia 27 de setembro de 2017, a 20 de anos de cadeia pela morte de 4 vítimas. Sendo estes absolvidos pela morte de José Bezerra e pelas duas tentativas de homicídios. Atualmente, eles (Eber e Marlos) aguardam o julgamento do recurso em liberdade.
Outro acusado foi Edson Marcelino da Silva, que durante o processo foi impronunciado, ou seja, não havia elementos suficientes para enviá-lo ao Tribunal do Júri e, por último Enilton Procópio que somente se apresentou ontem (12) à justiça durante o julgamento, sendo condenado a 21 anos e 04 meses de reclusão em regime fechado. Assim, como Eber Maciel e Marlos de Souza, Enilton também foi absolvido do homicídio de José Bezerra, mas foi condenado pelas duas tentativas e por quatro homicídios, inclusive o jurado reconheceu a qualificadora do meio cruel para a série que tem como vítima Dagner Lemes.
JULGAMENTO DE ENILTON
Durante o julgamento que foi realizado no plenário do Tribunal do Júri no Fórum de Vilhena, o Promotor de Justiça, João Paulo Lopes e a Defesa do acusado, Drº Leliton Luciano Lopes da Costa, após ouvirem as testemunhas, que afirmaram que na manhã do dia 17, encontraram três motocicletas nas quais estavam seis homens, dentre eles, Enilton Procópio, todos armados, e que Ilário Danelli as ameaçou dizendo que já havia matado um (referindo-se a José Bezerra), anunciando lodo em seguida outras mortes que após algumas horas se concretizaram, ouviram o acusado que tem residência fixa em Rolim de Moura, para depois explanaram suas teses de acusação e defesa.. O julgamento durou quase 12 horas.
O promotor de justiça que iniciou os debates às 13h48min, requereu a absolvição de Enilton em relação à vítima José Bezerra dos Santos por negativa de autoria, mas em relação às demais vítimas pediu a condenação. Já a defesa, requereu a absolvição do réu de todos os crimes por negativa de autoria e pediu ainda a exclusão de todas as qualificadoras de todos os crimes, pela negativa de autoria. Houve réplica e tréplica, e após os novos debates, os jurados reconheceram a negativa de autoria de um homicídio, mas em relação aos outros o condenaram. A defesa alegou que irá recorrer da decisão para o Tribunal de Justiça, na capital.
O QUE DIZ A DENÚNCIA?
Conforme a denúncia que teve como base as investigações policiais, a área onde aconteceu os crimes encontrava-se em litígio, haja vista que os denunciados e várias outras pessoas a invadiram, tendo os proprietários acionado a justiça e conseguido a respectiva reintegração de posse, cuja ordem fora cumprida pacificamente pela polícia militar no dia 14 de outubro de 2015.
Após isso, os proprietários contrataram alguns funcionários para se somarem a outros dois que já laboravam naquela área, a fim de que pudessem reorganizar os estragos feitos pelos invasores no tempo em que ali permaneceram acampados. Ocorre que, inconformados com o desfecho judicial do processo, os denunciados, juntamente a outros invasores, resolveram voltar às imediações da área reintegrada dias após o cumprimento da ordem, e passaram a planejar a morte dos funcionários dos proprietários das áreas reintegradas.
Agindo conluiados e com total domínio da situação, na manhã de 17 de outubro, os denunciados abordaram repentinamente a vítima José Bezerra dos Santos, vulgo “Corró” (que trabalhava no Lote 75, na área reintegrada) e o executaram mediante disparos de armas de fogo. Em seguida, seu corpo foi arrastado para o meio da mata, às margens da estrada onde foi encontrado pelos policiais.
Na sequência, já no período da tarde, após se reunirem no acampamento, os denunciados se reorganizaram e planejaram nova investida, ocasião em que seguiram armados até a casa dos funcionários do proprietário do Lote 85, local onde saíram da mata e passaram a disparar contra as vítimas Daniel Aciari, João Pereira, João Fernandes, Dagner Lemes, Ariovaldo Nunes e Arivaldo Bezerra, que conversavam tranquilamente na área da residência, atingindo de plano Daniel Aciari (que somente visitava seus amigos) com um tiro fatal na cabeça.
Ao ver que seria atingida, Ariovaldo Nunes da Silva conseguiu embrenhar-se na mata e empreendeu fuga. Contudo, ante a situação, as outras vítimas optaram por se refugiarem dentro da residência, local contra o qual os infratores passaram a atirar e a tentar atear fogo. Vendo que morreriam trancadas na casa, as vítimas resolveram sair com as mãos para o alto, sendo obrigadas a deitarem no chão. Logo, os criminosos dispararam contra elas, matando João Pereira Sobrinho e João Fernandes da Silva. Em seguida, os infratores se deslocaram para dentro da mata para buscar combustível e assim incendiar o local. Nesse momento, Arivaldo Bezerra dos Santos, que se encontrava ferido, mas ainda em condições de andar, aproveitou para sair e se embrenhar na mata, evitando sua morte. Minutos depois, ao retornarem à referida casa, os infratores, mesmo notando que Dagner Lemes Castanho ainda encontrava-se vivo, atearam fogo no imóvel, matando-o asfixiado e queimado.
Revelam as investigações que Ilário Danelli é o cabeça do grupo, partindo dele os principais ato de execução para os crimes, contudo os demais denunciados participarem da execução, já que o auxiliaram no planejamento e no transporte de armas e munições de um lugar para o outro, tudo visando facilitar suas utilizações e a consequente execução dos referidos homicídios.
Texto: Redação FV
Fonte: Tribunal de Justiça
Foto: Divulgação/Folha de Vilhena