Após alguns dias de mobilização pedindo redução dos impostos sobre os combustíveis devido a sua alta nas últimas semanas, ocasionada pela nova política da Petrobrás, pós-impeachment, a qual deixou de ter o controle dos preços dos derivados de petróleo (até mesmo o gás de cozinha) e os preços passaram a serem regidos pelas regras do mercado, e com isso, a alta do petróleo e do dólar nos últimos tempos tem elevado de forma significativa o preço do Diesel, atrapalhando diretamente o trabalho dos/as caminhoneiros/as (mas essa questão deixamos para outro momento), vimos parte da sociedade não somente apoiar essa reivindicação, como também, “pedir” Intervenção Militar!
Diante disso e como historiador curioso, fui buscar em alguns arquivos, principalmente do Jornal Folha de São Paulo, como esses militares, tido quase como deuses por parte da população, lidaram com a alta do petróleo e do dólar na década de 1970/1980 e, também, com a greve dos/as caminhoneiros/as e a tentativa de locaute dos empresários do transporte neste momento. Vejamos.
Nessa primeira página do jornal, do dia 05 de agosto de 1979, o jornal anuncia a dificuldade com o abastecimento de combustível na cidade de São Paulo. A imagem é bastante reveladora. Diversos motoristas parados, empurrando os seus carros até o posto de combustível. Vivíamos sob a Ditadura dos Militares, governados pelo general Ernesto Geisel. Ao lado direito da foto, no primeiro parágrafo lemos: “(…) uma comissão de carreteiros de São Paulo decidiu pelo retorno ao trabalho amanhã, mediante a promessa de reajuste de 32% nos fretes e formação de um grupo de trabalho para estudar novo aumento em 45 dias”. Ou seja, o abastecimento estava comprometido, justamente, pela greve dos/as caminhoneiros, em plena Ditadura Militar! Inclusive o jornal alega que poderia haver uma ameaça de lockout por parte dos carreteiros. Mas vamos adiante, vemos mais um jornal:
A capa da edição de 30 de novembro de 1979, agora sob governo do General Figueiredo, traz os dizeres atribuídos ao ditador: “Gasolina subirá mais” e o mesmo alega que poderá haver racionamento, devido a situação. No terceiro parágrafo, a esquerda da foto do “Presidente” traz os seguintes dizeres: “Figueiredo admitiu, ainda que as greves em todo o País ‘estão de fato preocupando o governo’”.
Nem preciso dizer muito, ou melhor, os arquivos dizem por si mesmo. A história está aí, e ela deixa claro que no governo dos militares que sofreram com a alta do petróleo e do dólar no final da década de 1970 e 1980, levaram o país a uma crise pior do que a existente hoje. Ao lado da última reportagem, vemos, inclusive, a inflação a 9,5% mais de três vezes maior que a de hoje.
A crise do período nos militares e a crise que vivemos hoje pode nos ensinar muita coisa, inclusive que, os militares não são solução para nada. Mais importante, naquele momento as greves eram monitoradas, vigiadas, e boa parte das lideranças eram presas e muitas vezes desapareciam, por somente, protestar contra o governo, como vocês/nós fazemos hoje. Pedir a intervenção militar é contraproducente em todos os níveis, pois, a chegada deles no poder, como vimos acima, não é garantia nenhuma de melhoria econômica, mas podemos ter certeza que decretaria o fim do direito de você e eu ir para ruas e pedir a volta de quem quer que seja ao poder.
E tais pautas vazias, mobilizações sem reivindicações claras e o caos social e econômico instalado pode e é de interesse direto de certos presidenciáveis, que, como disse um colunista na Folha de São Paulo ontem (28/05/2018), apoio o caos hoje para vender a ordem amanhã. Mas esse assunto demagógico deixamos para uma próxima oportunidade.
Mauro Alcântara é Professor do Instituto Federal de Rondônia e Doutorando em História
Fonte: Folha de Vilhena