❝A maioria das vezes eles não querem morrer, querem parar de sofrer❞
Setembro foi escolhido pela Associação Brasileira de Psiquiatria, em parceria com o Conselho Federal de Medicina, o mês de combate ao suicídio.
De acordo com dados do primeiro relatório sobre prevenção ao suicídio, elaborado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), em setembro de 2016, mais de 900 mil pessoas tiraram a própria vida por ano em todo o mundo; isso representa uma morte a cada 40 segundos. A OMS apontou ainda que 75% dos casos ocorrem em países de rendas média e baixa. O Brasil é o oitavo nessa lista.
Segundo a Organização, a prevenção é possível e, para isso, é necessária uma abordagem multissetorial abrangente, entretanto, vários países não contam com estratégias de combate. A OMS divulgou ainda que, em seu plano de ação Saúde Mental 2013-2020, há uma meta de redução de 10% dos índices de suicídio.
Suicídio é a segunda maior causa de mortes entre jovens
Dados do relatório da OMS mostraram que o suicídio é a segunda maior causa de mortes de pessoas na faixa etária entre 15 e 29 anos; e que os métodos mais utilizados são envenenamento (pesticidas), enforcamento e armas de fogo. ❝Os jovens se matam mais, e no Brasil, em 25 anos, houve um aumento dessa taxa em 30%❞, alerta Cleyde Rossi, do projeto Vale a Pena Viver.
Os especialistas apontam a depressão como uma das principais causas para o suicídio. ❝Há algo errado no mundo em que vivemos. As pessoas estão cada vez mais isoladas, vivendo suas vidas, e isso só aumenta o problema. Acredito que deva haver uma mudança na estrutura familiar e o estreitamento do afeto, pois a experiência tem nos mostrado que aqueles que tiraram a vida se sentiam sozinhos e rejeitados; além disso, há muita preocupação com o material, o ter, e pouco investimento no ser❞, argumenta a voluntária Cleyde.
Entenda e previna
Segundo a profissional, o suicídio está sempre associado a doenças psiquiátricas, e é importante conhecer os grupos vulneráveis ao atentado.
Para essa identificação, é preciso levar em consideração três fatores de risco, são eles; pessoas com algum tipo de transtorno psicológico, como depressão, transtorno de humor bipolar ou transtorno de personalidade. E também: a perda de algo (status social) ou alguém importante na vida, associado a um terceiro fator, estão pessoas com doenças crônicas e incapacitantes.
❝Temos que acabar com esse mito de que a pessoa que quer se matar não diz”, enfatiza a psiquiatra Valéria Barreto Novais, que afirma que ❝é preciso tornar público para que haja uma desmitificação do suicídio.❞ Além de detectar a vulnerabilidade desses grupos, faz parte da prevenção ficar alerta aos sinais. Ela dá dicas: ❝Essas pessoas começam a apresentar algum tipo de desestruturação no seu equilíbrio emocional, começam a ficar mais caladas, alteração no sono, irritação, pessimismo. Quando acontecem essas mudanças é preciso procurar um profissional❞.
❝Na maioria das vezes, eles não querem morrer, querem parar de sofrer❞, enfatiza Valéria sobre a importância da prevenção, já que todo o processo envolve cuidados que podem ser observados e evitados com a atenção dos familiares. ❝É importante que alguém que tenha tentado se matar, esteja sempre acompanhado, evitar ter ao alcance objetos cortantes, e outros tipos de armas, pois é um momento de desespero e impulso. A pessoa pode tentar e conseguir❞.
A psiquiatra conclui sobre a forma de prevenção: ❝As pessoas que já se mataram, tiveram outras tentativas, e muitas vezes chegaram a procurar ajuda. Isso foi verbalizado e não foi abordado. O profissional tem que perguntar sobre isso, para não perder a oportunidade de salvar uma vida❞, disse.
Ela acrescenta que ao notar um sinal, o familiar deve procurar imediatamente ajuda para investigar. ❝É comum que as pessoas queiram esperar, para ver se melhora, mas isso é arriscado. As doenças mentais vão se instalando na maioria dos casos de forma lenta, não é de forma abrupta, é preciso estar atento❞, afirmou.
Segundo a Organização Mundial de Saúde, o Brasil é o 8º em números absoluto de suicídios no mundo. A psiquiatra acredita que isso também se deve à negligência da saúde mental no país. ❝A população não tem acesso na medida que necessita de assistência, a saúde comum está ruim, e a mental principalmente. A lista de espera em hospitais psiquiátricos é enorme, tem hospitais fechando, as emergências e o acesso ao atendimento também, enquanto isso, a pessoa pode se matar❞.
Alerta
Os psiquiatras chamam a atenção para um fato alarmante: o aumento de suicídios em adolescentes. Segundo eles, a taxa já foi bem menor. Ainda não sabe-se ao certo até que ponto isso está associado as mídias sociais, mas é importante ressaltar que, na internet, se colocar em sites de buscas, aparecem várias maneiras de concretizar o suicídio.❝A nossa cultura e sociedade tendem a estimular os jovens nesse sentido, de não vivenciar a perda❞.
Os pais também precisam observar de forma criteriosa os sinais (citados acima), para não deixar passar despercebido, como apenas um ato de rebeldia, ❝coisas de adolescente❞.
Procure ajuda
No caso de quadros psicóticos, em que o paciente está com delírios, sentindo-se perseguido, ouvindo vozes, é recomendado que seja levado imediatamente a uma emergência psiquiátrica, mesmo que esteja sob o efeito de entorpecentes, já que no centro de saúde ele será medicado adequadamente.
Valéria aconselha como lidar em um caso como este. ❝Mostre que você entende o sofrimento dele. Converse, pergunte o que as vozes estão dizendo, mostre empatia ao momento, entenda, ofereça ajuda. Diga que pode ajudar: ‘Eu vou com você’, isso vai desaparecer❞. E enfatiza: ❝Nunca dizer: Isso é coisa da sua cabeça❞. De acordo com a psiquiatra, essas vozes levam o paciente ao desespero, com comentários desagradáveis, chantagens emocionais e induzindo o suicídio.
Material disponibilizado pelo Centro de Valorização da Vida (CVV)
O CVV disponibilizou todas as informações sobre o Setembro Amarelo no site: www.setembroamarelo.org.br/; e na página do Facebook: www.facebook.com/setembroamarelo/. Nos canais também são divulgadas as formas de colaborar e as programações de atividades.
Além do CVV, a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) apoia o Setembro Amarelo e, juntamente com a Associação Médica Brasileira (AMB), o Conselho Federal de Medicina (CFM) e a Federação Nacional dos Médicos (Fenam), desenvolveu a cartilha Suicídio ❝Informando para Prevenir❞, que pode ser baixada no link www.abp.org.br.
O site Folha de Vilhena aderiu a essa campanha na prevenção ao suicídio e conta com a sua ajuda para salvar vidas! O suicídio vem matando mais jovens entre 19 e 27 anos do que HIV; não é frescura, não é doença de rico, não é loucura e muito menos vontade de chamar atenção. Pessoas depressivas precisam de ajuda, de amigo e não de críticas!
Carlos Mont Serrate
Folha de Vilhena