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Fenômenos raros surgem no litoral e intrigam especialistas


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Um enorme recuo da maré, o aparecimento de mamíferos sub-antárticos e duas grandes manchas escuras, com cerca de 400 metros na água do mar, estão intrigando pescadores e moradores do litoral do Paraná e de Santa Catarina.

Mancha causada por algas no litoral do Paraná. Foto: Lamic/CEM/UFPR

Esse conjunto de fenômenos raros coincidiu com um alerta de ressaca emitido no fim de semana pela Capitania dos Portos da Marinha em Paranaguá, para todo o Litoral Sul e Sudeste do país.

O Aviso de Mau Tempo, que foi emitido na sexta-feira (11) e ampliado no domingo (13) termina nesta quarta-feira (16). O fenômeno que era esperado, o mais comum e perigoso, a ressaca, não causou danos e nenhuma ocorrência grave foi registrada nos últimos quatro dias.

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Mas uma séria de acontecimentos paralelos, porém, mobilizou especialistas e aguçou a curiosidade de moradores e frequentadores do litoral.

Considerados raríssimos no Brasil, acontecimentos como o registro de lobos-marinhos-do-peito-branco e de um golfinho-de-óculos; de manchas quilométricas formadas por algas; e do recuo de maré baixa por uma extensão quatro vezes maior que o normal, causaram surpresa entre especialistas.

Todos os fenômenos têm explicação científica e aparentemente não oferecem riscos.

Maré muito baixa e muito alta

Em conjunto com a ressaca, o recuo da água do mar em extensão maior que o normal é explicado pela soma de dois fatores, segundo o professor de Engenharia Ambiental da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Eduardo Gobbi.

A ação de um campo de pressão atmosférica aliado ao vento na região levaram ao maior recuo já visto pelo especialista em 25 anos morando no Paraná. “Nunca tinha visto com tanta intensidade. O que aconteceu não é comum”, aponta.

O especialista explica que a soma da maré astronômica, com influência da Lua, com os efeitos meteorológicos (maré meteorológica), causaram o recuo do mar.

“O padrão de circulação atmosférica nessa região do hemisfério Sul, do Atlântico Sul, você tem em geral diversos ciclones entrando sistematicamente, permanentemente, centros de baixa pressão, gerando esses ventos famosos nessa região. O que aconteceu foi uma coincidência de um centro de alta pressão ter descido um pouco mais, atipicamente, e por causa disso ele empurrou um centro de baixa pressão mais pra cima. A combinação desses dois é que foi o problema”, explica.

Eduardo Gobbi relaciona o recuo do mar também com a ressaca detectada pela Marinha. “O centro de baixa pressão gira no sentido anti-horário e o centro de alta pressão gira no sentido horário. Os modelos detectaram que de sexta-feira pra cá teríamos ventos muito fortes em direção à costa e essa pista levou à previsão da ressaca e ao alerta da Marinha. Só que por causa dessa combinação também entrou um vento muito forte de Norte/Nordeste, por dentro do país”.

“É muito provável que esse vento fortíssimo, atuando de forma muito persistente, é quase certo que isso tenha feito com que houvesse um recuo das águas mar adentro. Chamamos de maré meteorológica. Existe a maré astronômica e os efeitos meteorológicos são muito comuns, mas não com tanta intensidade, principalmente para baixo”, observa.

Mancha escura

Uma análise feita por técnicos do Laboratório de Ecologia e Conservação do Centro de Estudos do Mar (CEM) da Universidade Federal do Paraná (UFPR) apontou, no início da tarde desta terça-feira (14), que manchas escuras vistas em uma praia de Matinhos, Superaguí e Pontal do Sul, no litoral paranaense, foram causadas por algas da espécie Anaulus australis, que é inofensiva à saúde humana e até mesmo benéfica para o bioma. A espécie foi identificada pelo especialista em algas e professor da UFPR, Luiz Mafra.

As manchas apareceram no fim da tarde de segunda-feira (14) no Balneário de Albatroz.

Moradores da região acionaram a Polícia Ambiental por volta das 17h30. Ao chegarem na praia, por volta das 18h, os agentes consideraram a possibilidade de que óleo poderia ter vazado de alguma embarcação ou do Porto de Paranaguá, a 30 quilômetros de Matinhos.

Ao menos duas manchas – cada uma com cerca de 400 metros, com uma distância de quatro quilômetros entre elas, foram vistas. Agentes da Polícia Ambiental fizeram registros fotográficos e acionaram o Instituto Ambiental do Paraná.

Na manhã desta terça-feira, técnicos da UFPR e agentes da Polícia Federal (PF) acompanharam policiais ambientais para vistoriar a região.

Apesar da suspeita ainda persistente de que a mancha teria sido causada por poluição, especialistas consideram que o fenômeno da coloração de alguns pontos da água na praia é causado pela floração de microalgas. Isso ocorre com determinada frequência em várias regiões do mundo.

Mesmo antes da confirmação de exames, a bióloga Camila Domit, do Laboratório de Ecologia e Conservação do Centro de Estudos do Mar (CEM) da Universidade Federal do Paraná (UFPR), já havia apontado a floração das algas como principal hipótese. “Eu nunca tinha visto uma concentração tão grande dessas algas aqui no nosso litoral, mas é muito comum acontecer na Praia do Cassino, no Rio Grande do Sul”, diz a especialista.

Amostra da água do mar. Foto: Polícia Federal

Amostra da água do mar. Foto: Polícia Federal

As manchas da floração, geralmente marrons, pretas ou vermelhas, aparecem pelo acumulo na superfície da água de pequenas algas, vistas somente no microscópio. Essas microalgas, que normalmente ficam no fundo do mar, são trazidas para cima pelas ondas, ventos e chuva, entre outros fatores.

“O efeito das ondas estimula toda reprodução dela. Ela (a alga) chega com as correntes mais frias, é comum de inverno, e reproduz de maneira mais intensa por conta desses efeitos de ressaca”, explica.

Saúde humana

O fenômeno não oferece riscos à saúde dos banhistas. Entretanto, as pessoas devem evitar as áreas com manchas, pois nelas podem estar alojados outros tipos de microrganismos que causam irritações na pele. Camila Domit explica que não é o caso da mancha atual.

Para os pescadores as microalgas são benéficas, já que atraem para a superfície peixes em busca de alimento. “Essa espécie não é tóxica, não temos nenhum relato de que possa causar algum dano à saúde humana ou à saúde da fauna. Pelo contrário, é uma das espécies principais para alimentar a tainha, por exemplo, várias espécies de peixes, baleias. Entre as algas presentes nas amostras, 98% é composto por Anaulus”, afirma.

Com a presença das algas, a água fica mais escura e deve permanecer assim por vários dias. “A floração está muito grande. Ela começou em Albatroz, mas não está só em lá. Hoje a gente monitorou a mancha de Betaras até Praia de Leste”.

As manchas serão monitoradas e serão realizadas coletas em cada quilômetro por onde ela passar. “As pessoas podem ficar bem tranquilas, não há registro de danos à saúde. O que pode ficar é um cheiro mais forte na água”, explica Domit.

O resultado de exames em amostras coletadas por técnicos do Instituto Ambiental do Paraná (IAP) deve ser obtido somente em 15 dias.

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