A enfermeira Márcia Melo descobriu um câncer na mama direita aos 40 anos. Com o tratamento da doença, 15 kg a mais na balança, perda dos cabelos e a autoestima abalada, Márcia buscava força na família e amigos. Com três meses de tratamento, o pilates foi apresentado a ela, e com o novo esporte, e o contato direto com outras mulheres que lutavam contra a doença, tudo ganhou um novo sentido.
– Pilates foi meu grande ajudador. Me lembrei das atividades físicas que fazia antes da doença, sempre fui apaixonada por academia, e por ser muito vaidosa, cuidava do meu peso. Durante o tratamento percebi que poderia permanecer me exercitando, me senti muito melhor.
O momento que viu a vida mudar, assim Márcia Melo define a confirmação do câncer de mama, em 2012. Após fortes dores e muito incômodo, a enfermeira resolveu procurar um médico, pois no autoexame não encontrou nenhum nódulo. Usando prótese de silicone por estética, acreditou que seria apenas um desconforto decorrente disso. No entanto, após dois exames, o resultado da biopsia confirmou a doença. Márcia foi direto para Barretos, SP, e três dias após o diagnóstico iniciou o tratamento de quimioterapia.
Com a quimioterapia logo começou a perder os pelos do corpo e deixava cílios, sobrancelha e cabelos espalhados por onde passava.
– Minha autoestima foi destruída, minha vaidade foi ao chão, antes da doença sempre fui muito cuidadosa, e perceber que além de todo o cansaço e fadiga que o tratamento causa, estava indo para o ralo todos os meus cuidados, foi desesperador.
Para não sofrer ainda mais com a queda dos cabelos, Márcia foi orientada a raspar a cabeça, e mesmo com resistência percebeu que essa era a melhor maneira de não se assustar com os efeitos das medicações.
– Raspei minha cabeça sem querer, mas foi a única maneira de não me deparar com bolo de cabelo por todo lado. Essa sem dúvida foi uma das partes mais difíceis.
Com a aparência completamente diferente e aumento do peso, outra notícia abalou a enfermeira, a retirada total da mama para combate da doença. Durante toda a mudança em seu corpo, a enfermeira conheceu um grupo de mulheres que faziam pilates em uma academia, o que auxiliou não só na autoestima, mas a amenizar os efeitos colaterais do tratamento.
Com o câncer combatido, os cabelos crescendo, a nova luta era contra a balança para eliminar os 15 kg. A enfermeira voltou às caminhadas, musculação com algumas restrições e zumba.
– Dançando, me cuidando e fazendo uma das coisas que mais gosto, voltei à minha vaidade e percebi que me amava muito mais. Recuperei minha saúde, autoestima, peso e o amor. Nunca desanimei, e nos momentos mais difíceis, buscava inspiração e força em minha fé e família.
Hoje Márcia concilia o tempo entre trabalho e treinos. Malhando e dançando de segunda a sábado, a enfermeira explica que o esporte foi um agente motivador nos momentos mais difíceis.
– Perceber que mesmo diante de tudo o que passei ainda me restou forças para buscar o meu melhor, é maravilhoso. Durante toda a dor e peso do tratamento, encontrei minha calma no pilates, e agora voltei aos hábitos de antes da doença.
Além de recuperar a autoestima, Márcia conta que a sua história de superação serve como motivação para as companheiras de treinos, que sempre quando estão desanimadas dizem que irão continuar pelo seu exemplo de força.
– Têm dias que elas não estão com muita vontade, e sempre que me olham brincam dizendo que estão me usando como espelho, e isso é gratificante pois saber que ainda consigo tocar as pessoas com minha história é outra grande vitória.
Márcia ainda destaca a importância da saúde preventiva, e comenta que por conhecer seu corpo e sempre estar atenta a tudo, percebeu a doença no início, o que auxiliou na recuperação.
A enfermeira ainda faz tratamento de acompanhamento, um exame anual até completar dez anos após o câncer, e com ajuda dos filhos, pais, irmãos e amigos, relembra esses momentos com a sensação de vitória.
– Graças a Deus, e a força que minha família me deu, estou aqui para contar essa história. Uma mulher que conhece seu corpo e trabalha pelo seu bem estar, percebe qualquer anormalidade, e isso ajuda muito.
Empolgada com a nova fase da vida, Márcia afirma que o esporte foi um grande incentivo para continuar firme na luta contra a doença e que pretende seguir com os exercícios e a dança, para além de manter o bem estar, ajudar outras mulheres.
– O esporte é meu grande companheiro, esteve presente comigo antes, durante e depois do câncer. Uma vida onde o corpo, mente, espírito estão em sintonia, é mais completa. Sou uma nova mulher, superando cada dia mais as minhas limitações e bem mais disposta a gritar ao mundo que há vida após um câncer.
Fonte: Globoesporte