O presidente interino, Michel Temer fez, no cargo de vice-presidente, viagens internacionais caras, com comitivas grandiosas, que em alguns casos obrigavam diplomatas a solicitar ao Itamaraty recursos extras para pagamento das despesas.
Os dados constam de telegramas produzidos por embaixadas brasileiras e divulgados a partir a Lei de Acesso à Informação.
Em viagem de Temer à Turquia em maio de 2012, a União gastou US$ 16 mil (R$ 52 mil) por três diárias em um quarto duplo no hotel de luxo Conrad, em Istambul, onde ele se hospedou.
De acordo com sua agenda oficial, Temer foi ao país, entre 30 de maio e 2 de junho, para participar de um evento intitulado “2ª Conferência de Istambul sobre a Somália”, da abertura do Fórum de Parceiros da Aliança das Civilizações e de encontros com autoridades.
Foi acompanhado na viagem por cerca de 30 pessoas, entre servidores do Itamaraty, assessores e militares da equipe de segurança. A comitiva gastou US$ 56 mil apenas em diárias em dois hotéis.
O Itamaraty desembolsou mais US$ 21 mil em aluguel de veículos, incluindo duas Mercedes Benz, seis BMW, quatro vans Sprinter com capacidade para 12 pessoas cada, dois Mondeo e até um caminhão-baú para bagagens.
Foram mais US$ 4.000 por aluguel de duas salas no hotel para reuniões e entrevistas e US$ 2.100 por um intérprete em período integral.
Durante dois dias, Temer teve ao seu lado um fotógrafo turco exclusivo, também em período integral.
E gastou US$ 944 pelo serviço prestado pela Kristal Fotograf.
Ao todo, e sem contar despesas com deslocamento por avião e diárias dos servidores, a ida de Temer a Istambul custou cerca de R$ 328 mil.
Todos esses gastos tiveram que ser assumidos pelo Itamaraty, em Brasília, a partir de “solicitações de recursos” enviadas pelo embaixador Marcelo Jardim.
DESCONTRAÇÃO
Entre 2011 e 2016, segundo os documentos, o então vice fez ao menos 15 viagens internacionais. Deslocamentos com grandes comitivas aparecem com frequência nos telegramas enviados pelas embaixadas ao Brasil –muitas não têm os custos revelados porque as próprias embaixadas suportam os gastos.
Mas quando a embaixada pedia mais dinheiro, os valores apareciam. Em setembro de 2011, por exemplo, o cônsul-geral do Brasil em Nova York (EUA), Seixas Corrêa, solicitou US$ 45 mil (ou R$ 145 mil) para que pudesse pagar a empresa de aluguel de carros Peniel Limousine Service, contratada pelo critério do menor preço, para a viagem de Temer.
Corrêa explicou que, “de acordo com o costume local, o pagamento deve ser antecipado”.
Para o deslocamento, o Itamaraty alugou cinco noites de uma suíte luxo para Temer e sua mulher, Marcela, e mais dez apartamentos duplos e seis singles para a equipe de segurança. O motivo foi a participação no “3º Fórum de Desenvolvimento Sustentável”, criado pelo empresário Mario Garnero. Os valores das diárias não foram revelados nos telegramas.
A agenda da viagem a Nova York diz que não houve compromissos oficiais no dia 24 daquele mês. No dia seguinte, um domingo, seu único compromisso foi ir a concerto da Orquestra Filarmônica Bachiana, sob a regência do maestro João Carlos Martins, no Lincoln Center.
CIDADE NATAL
Pouco depois da passagem por Nova York, Temer estava de novo na estrada, desta vez na viagem mais emotiva do ano. Entre 18 e 22 de novembro de 2011, foi a Beirute, capital do Líbano, e a Btaaboura, descrita pela embaixada como “a cidade natal dos Temer”, “local de origem dos pais do vice-presidente, que emigraram ao Brasil na década de 20”.
Os gastos dessa viagem também não foram revelados nas mensagens diplomáticas. Em telegrama, o embaixador resumiu: “Em momentos de descontração e informalidade, Temer inaugurou rua com seu nome, participou de almoço típico oferecido pela comunidade local, visitou a antiga casa dos pais e reencontrou parentes. No retorno a Beirute, passou pela cidade turística de Jbeil (Biblos)”.
OUTRO LADO
A Secretaria Especial de Comunicação Social da Presidência da República informou que Michel Temer, quando vice-presidente, “sempre procurou economizar recursos públicos em seus deslocamentos ao exterior”.
Em nota, informou que ele empregava equipes com número reduzido de auxiliares em viagens nacionais e internacionais e optava, sempre que possível, pela hospedagem mais econômica compatível com o seu cargo. “Além do que, em muitos países, a hospedagem era oferecida e paga pelo governo local, como é praxe diplomática.”
A secretaria informou que Temer, na vice-presidência, só fez viagens oficiais com o objetivo de estreitar relações políticas, solucionar problemas diplomáticos e atrair investimentos ao Brasil.
Em Istambul, na Turquia, Temer “participou do 1º Fórum de Parceiros da Aliança das Civilizações e encontrou-se com o então primeiro-ministro da Turquia, Recep Erdogan; manteve encontros bilaterais com autoridades participantes do evento”, como com o secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon.
“No segundo dia no país, Temer chefiou a delegação brasileira na 2ª Conferência Internacional sobre a Somália. Em 2011, o Brasil doou à Somália 56 mil toneladas de alimentos, além de contribuir para a assistência a refugiados”, diz a nota.
Em Nova York, segundo a secretaria, Temer participou do 3º Fórum de Desenvolvimento Sustentável, “onde fez palestra sobre os desafios do Brasil no contexto dos esforços do país para sediar a Rio+20, organizado pelo Fórum das Américas e pela Associação das Nações Unidas”.
Procurado a respeito dos gastos em um total de 15 viagens internacionais de Temer e comitiva, o Ministério das Relações Exteriores disse que tais informações “são reservadas”. Segundo a Lei de Acesso à Informação, documentos com esse grau de classificação têm prazo máximo de sigilo de cinco anos.
Folha de São Paulo