Há 4 meses na estrada, casal estende tempo de estadia em Porto Velho.
Em carro adaptado, aventureiros querem ir ao extremo sul da América
Viajar, conhecer lugares novos e ter muitas aventuras; esse pode ser o desejo de consumo de muita gente, mas quem teria coragem de largar tudo por um ano e colocar o pé na estrada? O casal paulista Danilo e Bruna Fiori, de 27 e 29 anos, teve.
Danilo é publicitário e Bruna é psicóloga. Depois de um ano de casados, os dois resolveram fortalecer o relacionamento de uma forma diferente, então venderam tudo que tinham, juntaram o dinheiro que economizaram em seis meses, deixaram seus empregos e partiram de São Paulo (SP) para o extremo sul da América, onde esperam passar o réveillon antes de retornar à cidade natal, em uma viagem de mais de 50 mil quilômetros.
Para aproveitar melhor, decidiram começar pelo Peru, cruzando o Brasil pela rota mais longa possível, passando pelo nordeste e norte brasileiro. “Queríamos conhecer primeiro o Brasil”, disse o publicitário.
Quatro meses depois da partida, o casal aportou esta semana em Porto Velho com o ‘Xoremba’, nome dado ao veículo adaptado que, desde abril deste ano, se tornou a casa do casal.
Na capital de Rondônia, quando buscavam um mecânico para o carro, os dois acabaram fazendo amizade com um grupo de aventureiros, que já realizaram o mesmo percuso e resolveram ficar mais tempo. “Fomos muito bem recebidos. Todos são muito cordiais, então resolvemos esticar um pouco mais nossa estadia por aqui”, diz Danilo, acrescentando que está se sentindo em casa.
O casal planeja partir de Porto Velho neste domingo (28), para a cidade de Rio Branco, no Acre, de onde segue na aventura pela América do Sul. Alguns dos recentes amigos de Porto Velho falaram ao casal sobre a experiência que é viajar pelos países sul-americanos. “Deram-nos ótimas dicas de locais e comportamento e, mesmo não sabendo falar muito bem o espanhol, acho que vamos nos sair muito bem”, diz Bruna, entusiasmada.
Bruna salienta que as dificuldades fazem parte da viagem. “Essa viagem nasceu da nossa vontade de romper certas fixações, que às vezes a gente se obriga e da necessidade de viver, conhecer e de estar junto”. Essa é a justificativa que ela também usa no blog onde posta as inúmeras fotos registradas ao longo da jornada.
“Já temos mais de mil seguidores. Todos comentam e tem uma interação muito grande”, comemoram. Segundo Danilo, a proposta inicial era fazer um documentário, não sobre a viagem em si, mas sobre a diversidade cultural e dos povos, dentro e fora do Brasil, porém, ainda não está definido “ainda não sei se vai rolar”, diz.
Questionado sobre os riscos nas estradas, Danilo disse que o perigo é sempre presente, mas que a satisfação é muito maior, fazendo dos riscos um dos detalhes no longo passeio. “Em nossa passagem pelo nordeste por exemplo, ladrões levaram nossas máquinas e computador. Era 11h da manhã e estávamos na praia da Barra Grande, foi muito triste, mas o episódio não marcou nossa viagem negativamente”, relata.
Segundo o publicitário que chegou a Rondônia cruzando a rodovia Transamazônica, existem trechos que não são muito convidativos, devido o isolamento e o risco de ficar pelo caminho. “Em compensação, foi em lugares remotos, como na comunidade de Uruará, na Transamazônica, no Pará, que conhecemos muita gente boa e fizemos muitos amigos”, salienta, sem esconder a satisfação de ter passado pela localidade.
Para o extremo
Depois do Peru, Bruna e Danilo devem seguir para a Bolívia, passando pela Colômbia, Chile e Argentina. “No réveillon queremos estar numa das mais distantes cidades do sul do continente, Uchuaia, na Argentina. De lá iniciaremos o retorno para o Brasil”, explica.
A aventura, segundo Bruna, parece fora do normal para algumas pessoas, mas para ela é algo que toda pessoa devia fazer. “É a libertação que precisamos para viver”, diz.
O casal revela que conta muito com a ajuda das pessoas por onde passa, mas com uma economia bem feita e gastos bem planejados, algo em torno de R$ 2,6 mil por mês, contando com combustível, dá para duas pessoas viajarem tranquilamente.
Claro, o veículo precisa atender algumas exigências. O carro em que o casal aventureiro viaja, por exemplo, é adaptado com uma minecozinha, com gavetas, pia, fogão e um banco que vira cama. O veículo também conta com uma barraca de camping que é adaptada na parte externa superior do carro. “Onde a gente para fazemos compra, cozinhamos nosso alimento e vivemos a rotina do lugar”, explica Bruna.
O casal afirma que acabam sendo motivadores para decisões difíceis. “Teve um local que um casal ficou noivo depois de ouvir nossa história. Eles namoravam há algum tempo, mas não tinham coragem de assumir algo mais sério. Depois de ouvir nossa história se animaram e passaram ao próximo passo, noivaram”, narra Danilo com ar de satisfação.
Com passagem pelo nordeste e parte do norte brasileiro, Danilo diz eles conseguiram fazer uma leitura do Brasil e perceberam que as regiões mais pobres têm um senso de comunidade mais presente, onde todos se preocupam com todos. “Em cidades mais desenvolvidas a individualidade e a criminalidade são fatores que afastam as pessoas umas das outras, mesmo assim, sempre conseguimos apoio e amigos”.
Com essas histórias e em busca de novas, o casal Bruna e Danilo se despede de Porto Velho, deixando a lição de que é possível conhecer muito do mundo, com planejamento, cuidado e sede de aventura.
Fonte: G1/RO