Estação telegráfica foi inaugurada em 1911, por Marechal Rondon.
Prefeitura diz que área pertence à aeronáutica e aguarda doação
Na chegada, portão fechado, escorado por um cadeado. Portas e janelas trancadas. Fezes e barulhos de pombos mostram que eles é quem habitam o local. O matagal começou a ser retirado nas últimas semanas. Essa é a situação atual do Museu Municipal Marechal Rondon, em Vilhena, Cone Sul de Rondônia, cidade localizada a 700 quilômetros de Porto Velho.
A história do museu começa em 12 de outubro de 1911, quando Marechal Cândido Mariano da Silva Rondon inaugurou a estação telegráfica de Vilhena, na fronteira com o estado do Mato Grosso. A Lei Municipal 227/88 transformou oficialmente o local em Museu 77 anos depois. No entanto, segundo a prefeitura, o endereço já era visitado por moradores e turistas, antes dessa data.
No mesmo terreno, foi inaugurado em 24 de novembro de 1991 o Zoológico Municipal Marciano Zonoecê. A zeladora Andreia Oliveira de Souza relembra quando o pai foi contratado ainda na época do zoológico.
“Há mais ou menos 19 anos, meu pai foi contratado para cuidar do local, e nós viemos morar aqui. Ainda tinha um casal de leões, um jacaré, uma jiboia e itens históricos no museu. Depois de uns anos, os animais foram levados embora, alguns objetos do museu foram saqueados e tudo fechou. Isso já tem mais de 15 anos”, explica Andreia, que ainda reside na área.
Andreia afirma que várias pessoas procuram o endereço para visitar e que se frustram com o fechamento. “Certa vez, veio um japonês com um tradutor visitar o museu. Quando chegou aqui, teve que voltar. Já são anos que o local está desativado, mas muitas pessoas, principalmente de fora, acreditam que está aberto”, enfatiza.
O coordenador do Ponto de Cultura Cone Sul Plural, Cledemar Jeferson Batista, fala da importância do museu para a cidade. “Aquele espaço precisa ser preservado em todos os seus aspectos, tanto material, que é o imóvel em si, quanto à questão imaterial que a é questão da afetividade, o referencial em relação ao marco inicial da cidade de Vilhena. As pessoas têm interesse em buscar referências da história, e o museu seria um dos espaços ideais para isso”, salienta.
Prefeitura
A gestão atual não soube informar a data exata do fechamento do museu e zoológico. A área compreende quatro hectares de terra. Segundo a prefeitura, a estação telegráfica foi desativada na década de 60. Na década de 80, passou pela primeira reforma. A estrutura teria passado por reparos nos anos seguintes, mas uma mudança na jurisdição do espaço proíbe o órgão de investir recursos, atualmente.
“A área em que está o museu foi passada para a aeronáutica em 2005 e só temos autorização para fazer a manutenção conservativa. A prefeitura já pediu a doação do terreno. Enviamos os documentos solicitados e estamos no aguardo”, explica o presidente da Fundação Cultural de Vilhena, Anísio Ruas.
Conforme Anísio, quando assumiu a fundação, as poucas peças que estavam no museu foram guardadas, no entanto, diz desconhecer o paradeiro de outros objetos. “Temos um projeto do Parque Florestal Municipal, e queremos incluir o museu no circuito. Ali está a historia do começo da cidade, e queremos preservá-la”, enfatiza.
Força Aérea Brasileira
Conforme o Sétimo Comando Aéreo Regional (VII Comar) da Força Aérea Brasileira (FAB), o terreno pertence a União e está jurisdicionado à FAB. A transferência foi realizada em duas etapas, uma em 2003 e outra em 2005. Nos termos de entrega, a área é delimitada como “Sítio Aeroportuário, Vilas Militares, Esquadrões de Apoio e Base Aérea de Vilhena/RO”.
O comando informou que o processo de doação do terreno para a prefeitura está em análise, e que após o museu ser tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), em 2012, novos procedimentos precisaram ser considerados.
Depois da análise do VII Comar, o processo deve ser encaminhado para avaliação do Comando da Aeronáutica, pois o museu está localizado em um sítio aeroportuário. O VII Comar informou ainda que o prazo para a resposta sobre a doação depende da conclusão do processo.
Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) informou que o pedido de tombamento da estação telegráfica foi feito pela prefeitura de Vilhena e que o ato é realizado em várias etapas. Em 2012 aconteceu o tombamento provisório, que tem os mesmo efeitos legais do tombamento definitivo.
Em 2015, o processo foi analisado pelo Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural, que se manifestou favorável ao tombamento. Depois disso, o tombamento foi homologado pelo Ministério da Cultura (MinC), no dia três de fevereiro deste ano.
De acordo com o instituto, o tombamento é resultado de um processo de interesse coletivo em conservar a memória expressa nesses bens culturais. O instituto explica que após o tombamento, o bem não pode ser destruído, nem descaracterizado, e que qualquer intervenção a ser realizada deve ter aprovação prévia do Iphan.
Fonte: Eliete Marques / G1