“Antigamente ninguém falava em água, hoje toda água é poluída. Há mais de 30 anos, a gente ia trabalhar na mata, pegava uma cabaça e enchia de água do poço, bebia e não dava nada”, conta o agricultor Antonio Tobo, cujos 62 anos são marcados pelos ciclos de seca e da chuva amazônica em Corumbiara. “Hoje não se pode mais fazer isso, seja em poço ou em açude mesmo. Agora a água é poluída”.
A fala reflete a situação calamitosa com que o distrito mais populoso de Corumbiara é servida, devido ao descaso da administração do prefeito Deocleciano Ferreira, que tirou a bomba de água do poço artesiano existente e distribui água de um riacho poluído que atravessa o distrito.
No córrego inapropriado para a retirada de água, os moradores despejam todo tipo de produtos e não existe ninguém que monitore e inspecione os tanques.
Das fases de tratamento pelas quais deveria passar, nem a desinfecção é feita, com a aplicação de pastilhas de cloro diretamente nos tanques., colocando em perigo a vida da população.
“De manhã, a gente chega aqui abre a torneira, é uma capa de lodo grossa, enche nossos baldes, a gente retira a água, mais beber nunca disse o morador Almir Manoel, uma vez eu bebi e já fiquei doente”, acrescentou ele.
Após um levantamento, a reportagem identificou que, desde o começo da administração de Deocleciano chegaram recursos, a maior parte proveniente do Ministério de Integração Nacional, Cidades e Defesa, não constando nenhuma verba para o tratamento ou monitoramento da qualidade da água.
Crianças
O prefeito Deocleciano já tem conhecimento que várias crianças foram acometidas por doenças como dengue, diarreia ou pneumonia. “A gente faz o que pode. Aqui em casa a gente coa e ferve a água, mas não adianta nada se, quando eles chegam na escola, a água que tem pra beber não se sabe de onde vem. Todo mundo aqui no distrito já ficou doente. Dos meus três filhos, a Marilene, de 10 anos, é a que sofre mais. Tem dor de cabeça, dor no estômago, vomita. É todo tempo assim. Ela conta que o suco distribuído na merenda, feito com esta água, tem gosto de azedo”, queixa-se a dona de casa Joana Sousa, 47 anos, moradora do distrito.
Joana tem cinco filhos e é a chefe da família, a qual sustenta com uma renda de R$ 200 provenientes do Bolsa Família. Desse dinheiro, além de pagar R$ 100 em aluguel, ela gasta R$ 30 com a conta de energia e reserva R$ 50 para a compra de água mineral que ela acha melhor para o consumo da família. O que resta para passar o mês são R$ 20.
Autor: Osias Labajos
Fotos: Wilmer Garcia