A primeira etapa da Operação “Sala Azul” só se estendeu para os municípios de Vilhena e Colorado do Oeste, mas as investigações continuam e não se descarta a possibilidade do envolvimento de pessoas de outros municípios do estado
Uma denúncia que partiu da Caixa Econômica Federal – CEF levou cerca de 90 agentes federais na manhã desta quarta-feira, 23 de março, a cumprir nos municípios de Vilhena e Colorado do Oeste vários mandados de busca e apreensão de documentos, prisões preventivas e sequestro de veículos. A Operação denominada “Sala Azul” que faz referência às salas de atendimento na CEF teve como objetivo inibir fraudes no seguro-emprego, o qual já se alastrava por um bom tempo.
Desde as primeiras horas da manhã de quarta-feira, os agentes da Polícia Federal já estavam em ação cumprindo as determinações do Juiz Federal, da Subseção Judiciária de Vilhena, Rafael Ângelo Slomp, o qual expediu 32 mandados, entre eles, 21 de busca e apreensão, 11 prisões preventivas e 5 sequestros de veículos em ambos os municípios. Das 11 prisões, 09 delas foram devidamente cumpridas, já as outras duas estão em aberto.
A Operação que está em ritmo acelerado por existir o envolvimento de muitas pessoas na fraude, configurando-se uma verdadeira Organização Criminosa – ORCRIM, não tem data para acabar já que há possibilidade de mais mandados serão expedidos e cumpridos, inclusive estendendo-se para outros municípios do Estado de Rondônia.
O Delegado da Polícia Federal que está à frente da Operação é Jonathan Klock, e foi ele que concedeu entrevista à imprensa local que estava desde cedo acompanhando toda a movimentação.
De acordo com Klock, a quadrilha que é formada por empresários, contadores entre outros, criavam falsos vínculos empregatícios com empresas fantasmas, ou seja, as empresas eram criadas em 2015 e os funcionários eram registrados em 2013, tudo com a finalidade de fraudar os órgãos competentes.
“Um levantamento inicial, indica que houve em torno de 400 pessoas aliciadas pela organização criminosa. Essas pessoas nunca trabalharam para as empresas, contudo, elas cediam os documentos pessoais para criar o falso vínculo empregatício e assim poder receber em média a quantia de R$ 1 mil, dependendo da negociação e, o restante do dinheiro iria para o núcleo da organização criminosa e para a distribuição dos próprios captores. O prejuízo chega aos R$ 3 milhões”, salientou.
Desde o começo da Operação muito se especulava que o órgão atingido seria o Instituto Nacional Do Seguro Social – INSS, mas o Delegado afirmou que a fraude foi direcionada ao Fundo do Amparo ao Trabalhador – FAT que é vinculado ao Ministério de Trabalho e Emprego – MTE.
Até o momento já se tem a confirmação de 10 empresas fantasmas envolvidas no esquema fraudulento, mas acreditasse que muitas outras ainda serão desvendadas, já que os envolvidos estão agindo em municípios como Rolim de Moura, Cerejeiras, Pimenta Bueno, entre outros. “Em apenas 02 meses a quadrilha cresceu muito, porque as pessoas que estavam captando os supostos empregados viram a facilidade do negócio e elas mesmas começaram a realizar a fraude, ou seja, já estavam se criando outras quadrilhas dentro da própria organização criminosa, assim já não haveria a necessidade de estar vinculadas ao núcleo maior”, frisou.
Como mencionado as investigações partiram de uma denúncia encima de uma única empresa, mas aquela denúncia levou aos investigadores da Polícia Federal a ir mais longe descobrindo o envolvimentos de outras empresas e empregados. “Todos vão ser ouvidos por autoridades policiais diferentes e aquelas pessoas que concorreram para o crime irão responder, se comprovado o envolvimento delas, pelo crime de estelionato majorado. Tem muito por investigar, esta só é a primeira etapa da Operação, então ela não está encerrada, outros inquéritos virão igualmente que novas prisões, vamos fazer o cerco para assim inibir a fraude no estado de Rondônia.”.
O Delegado também informou que o inquérito foi instalado há aproximadamente 05 meses, mas que as investigações só se intensificaram nos últimos dois meses, devido à quantidade de envolvidos.
MODOS OPERANDI
Durante a entrevista, o Delegado explicou detalhadamente como os criminosos atuavam no esquema de fraude ao seguro de desemprego.
Conforme Klock, as pessoas sendo estas desempregadas eram captadas por aliciadores que ofereciam vantagens econômicas, chegando dependendo da negociação a quantia de R$ 1 mil reais pelo “acordo”. Elas entregavam suas carteiras de trabalho–CTPs e documentos pessoais para a criação do falso vínculo empregatício, assim a organização registrava as carteiras pelo período de 02 anos e só recolhiam 03 meses de Fundo de Garantia ao Tempo se Serviço – FGTS, tudo com a finalidade de adquirir o teto máximo do seguro-desemprego que hoje é de 5 x de R$ 1.530,00, ficando R$ 1 mil (parcela única) com o suposto empregador, R$ 100 por pessoa com o captador e o restante com o núcleo da Organização criminosa que é chefiado por três irmãos.
Cada empresa envolvida no esquema era de ramos diferentes, onde inclusive os próprios aliciadores eram os sócios das empresas, mas foi comprovado que elas nunca existiram de fato.
Dois contadores que estavam envolvidos na fraude, uma delas inclusive foi presa em Vilhena. A participação dos contadores era facilitar o registro dos empregados para os mesmos não irem até o Ministério de Trabalho e Emprego.
ÓRGÃOS PÚBLICOS ENVOLVIDOS
Questionado sobre o envolvimento de servidores públicos no esquema, Klock explicou que até o momento não foi confirmada a participação de algum servidor público, mas afirmou que irá comunicar a ditos órgãos as falhas detectadas nas investigações, já que não se pode criar algum vínculo empregatício de forma retroativa, sem o mínimo de fiscalização, e mais ainda liberar o seguro de desemprego quando apenas foi recolhida três guias de FGTS.
150 CARTEIRAS DE TRABALHO
Durante o cumprimento dos mandados, agentes da Polícia Federal encontraram na casa de um dos investigados mais de 150 carteiras de trabalhos, o que configura que a organização criminosa ainda estava agindo nas cidades, por isso, as investigações continuam a todo vapor.
Veja lista de investigados publicado no site Rondoniagora
Colorado do Oeste
- ANDERSON MARCON
- MARCELLO FERREIRA ALONSO
- GILSEMAR MARCON
- EDGAR SANTOS SOUZA
- LINDOMAR FARIAS SANTOS
- EMPRESA GILSEMAR MARCON TERRAPLANAGEM
- EMPRESA CG. ALMEIDA
- EMPRESA TRELIÇAS E MOLDURAS SÃO JOSÉ LTDA ME
Vilhena
- JEFERSON MARCON
- IZAIAS CORREIA DE OLIVEIRA
- MARCILENE SERAFINA GOMES
- EMPRESA M.S.GOMES CONTABILIDADE E ASSESSORIA
- CIDIONEY GERALDO ALMEIDA
- JUBENYLL DE OLIVEIRA SIQUEIRA
- GENECI MARTINS DE OLIVEIRA
- EMPRESA CONSTRUÇÕES E MONTAGENS CICHOCKI
- EMPRESA EDGAR SANTOS SOUZA ME
- EMPRESA J. MARCON COMÉRCIO E DEPÓSITO DE MADEIRA
- EMPRESA JUBENYLL DE OLIVEIRA SIQUEIRA
- EMPRESA E.A CURTY
- MARLY RUTHS
- MARIA JUÇARA DO ROCIO SOUZA
Texto: Sara Labajos
Fotos:G1/RO