Polícia usa gás lacrimogênio para conter confusão durante marcha indígena em Brasília

Tv Globo – Reprodução

A polícia legislativa usou gás lacrimogênio para conter uma confusão, em frente ao Congresso Nacional, em Brasília, ao final da marcha de indígenas, nesta quinta-feira (10), por volta das 18h30. Várias etnias estão reunidas no Acampamento Terra Livre — a maior mobilização indígena do país — desde o último fim de semana.

Cerca de 8 mil indígenas participam do encontro, segundo a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib). As atividades e debates sobre direitos e políticas para os povos originários vão até sexta-feira (11).

Nesta quinta, os indígenas saíram do acampamento, que fica junto da antiga Funarte, por volta das 17h, e caminharam em direção ao Congresso Nacional. Ao chegar em frente à Câmara dos Deputados, alguns indígenas avançaram e derrubaram grades de proteção que cercam o prédio.

Para conter a confusão, foram lançadas bombas de gás lacrimogênio e usado spray de pimenta. Algumas pessoas foram atingidas e passaram mal, com falta de ar.

O Corpo de Bombeiros foi chamado para atender ao grupo. A PMDF fez uma barreira de contenção em frente ao Congresso Nacional.

A Polícia Militar acompanhou a marcha desde o início. Alguns indígenas disseram que os policiais militares também usaram gás lacrimogênio e gás de pimenta para conter a confusão em frente ao Congresso Nacional.

O que dizem as autoridades

👉A PMDF disse que, ao final da manifestação, um grupo “adentrou a área de segurança do Congresso Nacional, momento em que a Polícia Legislativa atuou com material químico”.

👉Os diretores da Polícia Legislativa da Câmara dos Deputados informaram que nenhum manifestante foi detido pelo órgão. Segundo eles, a preocupação do órgão era “conter a invasão”.

“A Polícia Legislativa abrirá uma investigação para apurar a ‘invasão'”, disseram os diretores da Polícia Legislativa.

👉A Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) disse que os manifestantes não foram orientados sobre até onde a marcha poderia ir. Em nota, a Secretaria de Segurança Pública do DF (SSP-DF) informou que, “assim como em todas as manifestações desse tipo, é feito planejamento prévio, com a participação dos envolvidos, a fim de garantir a segurança dos participantes e da população em geral”.

“Para a ocasião, ficou prevista a utilização de gradis na Esplanada dos Ministérios. O policiamento ostensivo ficou a cargo da Polícia Militar (PMDF)”, disse a SSP-DF.

A Câmara dos Deputados informou que o acordo com o movimento indígena era que os manifestantes chegassem “apenas até a Avenida José Sarney, anterior à Avenida das Bandeiras, que fica próxima ao gramado do Congresso. Mas, parte dos indígenas resolveu avançar o limite”.

“A situação já foi controlada e o policiamento das duas Casas Legislativas, reforçado”, diz nota.

👉A Secretaria de Polícia do Senado Federal informou que devido ao avanço inesperado de manifestantes em direção à sede do Poder Legislativo, “foi necessário conter os manifestantes, sem grandes intercorrências”.

“Ressaltamos que a dissuasão foi realizada exclusivamente por meios não letais e a ordem foi restabelecida. A Presidência do Congresso Nacional reforça seu respeito aos povos originários e a toda e qualquer forma de manifestação pacífica. No entanto, é indispensável que seja respeitada a sede do Congresso Nacional e assegurada a segurança dos servidores, visitantes e parlamentares”, diz nota.

O Corpo de Bombeiros informou que atendeu duas mulheres vítimas de mal súbito, sendo que uma foi transportada para a UPA de São Sebastião e a outra para o Hospital de Base. “Estavam conscientes, orientadas e estáveis”, informou a corporação.

Todas as pistas de acesso à Praça dos Três poderes foram bloqueadas no começo da noite, após a confusão.

O que diz a Apib

“A Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) repudia de forma veemente os atos de violência do Congresso anti-indígena, cometidos pelo Departamento de Polícia Legislativa (DPOL) e pela Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) na tarde desta quinta-feira, 10, durante a marcha “A Resposta Somos Nós”, que faz parte da programação do Acampamento Terra Livre (ATL).

O Congresso, além de aprovar leis inconstitucionais, ataca os povos indígenas e seus próprios deputados. A deputada indígena Célia Xakriabá (PSOL) e várias pessoas ficaram feridas ao serem recebidas com bombas de gás de pimenta e efeito moral, no local que deveria ser a casa da democracia. Lamentamos o uso desnecessário de substâncias químicas contra os manifestantes, mulheres, idosos, crianças e lideranças tradicionais.

Temos evidências de que os atos fazem parte de um contexto de violência institucional disseminada contra os povos indígenas. Ontem, durante reunião convocada pela Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal (SSP-DF), para tratar da organização da marcha do dia de hoje, um participante não-identificado proferiu manifestação de cunho racista e de incitação à violência: “deixa descer logo… deixa descer e mete o cacete se fizer bagunça”. Conforme registrado em gravação obtida por solicitação da APIB após a reunião, a fala foi proferida por um provável agente das forças de segurança.

Hoje, o acesso ao gramado do Congresso Nacional por parte dos manifestantes ocorreu de forma espontânea, sem qualquer ato de violência, depredação ou rompimento de barreira. A APIB reforça o caráter pacífico e democrático da manifestação, que reuniu mais de 7 mil lideranças indígenas de diferentes povos de todo o país.

A mobilização teve como objetivo a defesa de direitos constitucionais e o fortalecimento do diálogo com os Poderes da República. O Acampamento Terra Livre é realizado há mais de 20 anos na capital federal, sempre com forte organização, compromisso e respeito às instituições democráticas. Ao longo dessas mais de duas décadas, o movimento indígena sempre colaborou e continuará colaborando para garantir que o evento ocorra de forma tranquila e segura.”

 

 

G1

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